Guilherme Freire – Boécio e a Consolação da Filosofia

Descrição

Nesse vídeo originalmente publicado em 21 de maio de 2020, Guilherme Freire analisa A Consolação da Filosofia, de Severino Boécio, um dos maiores livros de todos os tempos, escrito quando seu autor estava na prisão aguardando sua sentença.

C.S. Lewis dizia que conhecer essa monumental obra é o mesmo que se familiarizar com a Idade Média. Em meio às crises das invasões bárbaras, Boécio fez o possível para salvar o tesouro intelectual da Antiguidade. Infelizmente, foi perseguido por motivos políticos e acabou executado.

A vida e o contexto de Boécio

Guilherme Freire começa discutindo o contexto histórico em que Boécio viveu, logo após a queda do Império Romano do Ocidente, destacando a decadência civilizacional visível naquela época, marcada pela fragmentação do poder e pela crescente influência dos ostrogodos. Boécio, um cristão devoto, observou essa degeneração cultural e decidiu dedicar sua vida a preservar o conhecimento da Antiguidade, especialmente as obras de Aristóteles e Platão, bem como conceitos cristãos importantes como a Trindade.

Boécio ocupou uma posição elevada no governo sob Teodorico, o Grande, que governava a Itália. Seu trabalho incluía a tradução de obras filosóficas e científicas e a criação de tratados sobre música, aritmética e geometria. No entanto, sua luta para combater a corrupção acabou levando-o à sua queda: foi falsamente acusado de traição e acabou sendo preso, torturado e executado.

A Consolação da Filosofia: um testamento de vida

Como já dissemos, durante seu período na prisão, antes de sua execução, Boécio escreveu A Consolação da Filosofia, uma obra que se tornaria um dos textos mais influentes da Idade Média. Esse livro foi lido por figuras como Alfredo, o Grande, e ninguém menos que Santo Tomás de Aquino, sendo central no pensamento filosófico ocidental por mais de mil anos.

Segundo Freire, essa obra moldou a mentalidade medieval de maneira profunda, lidando não apenas com questões filosóficas abstratas, mas refletindo sobre o sentido da vida, a busca pelo verdadeiro bem e a aceitação das circunstâncias difíceis. Boécio escreve sobre como a fortuna é imprevisível e transitória, e como a verdadeira felicidade não pode ser encontrada nos bens materiais, mas sim na busca pela sabedoria e pelo bem eterno, representado por Deus​.

Filosofia, ordem e providência

A figura central de A Consolação da Filosofia é a própria Filosofia, personificada como uma mulher que consola Boécio em seu sofrimento. Ela o guia para além dos bens transitórios e revela que a verdadeira ordem no mundo está em Deus. Freire enfatiza que o livro de Boécio é uma meditação sobre a providência divina, mostrando que, mesmo em meio às maiores adversidades, há uma ordem cósmica que tudo rege.

Freire também ressalta que Boécio não menciona explicitamente Cristo ou a Igreja no livro, o que levou alguns estudiosos modernos a questionarem sua ortodoxia cristã. No entanto, a profundidade filosófica e espiritual de A Consolação da Filosofia revela que Boécio estava profundamente imerso na tradição cristã e que sua obra tem um propósito claramente alinhado com a Fé​.

A importância de Boécio para a Idade Média e além

Guilherme Freire conclui afirmando que conhecer A Consolação da Filosofia é essencial para compreender a transição entre a Antiguidade e a Idade Média, ou seja, concordando com Lewis. O livro não é apenas uma obra de consolo pessoal, mas um tratado sobre como o homem deve se orientar em busca do bem supremo, que é Deus. A influência de Boécio foi sentida ao longo de séculos, moldando o pensamento filosófico, teológico e cultural de toda a civilização ocidental.

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Guilherme Freire é um professor, conferencista e palestrante em filosofia brasileiro. Dentre outras atividades, já atuou na Secretaria Nacional da Juventude do Governo Federal e na Secretaria do Planejamento do Governo do Estado do Paraná.

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