O Papa Francisco Em Cuba: Um Não Às Ideologias

Este é um artigo de autoria de Luiz Felipe Nanini, do blogue Sentir com a Igreja, enviado para o nosso site para ser reproduzido aqui.

Diante de muitas críticas e acusações feitas ao Papa Francisco, por parte de não católicos e até de leigos, este texto pode ajudar a elucidar algumas questões.


A visita histórica do Papa Francisco à Cuba acabou ontem, dia 22 de setembro de 2015, e sem dúvida alguma, é uma viagem que vai deixar marcas no povo Cubano, marcas de fé e esperança em um povo que sofreu e continua a sofrer pelos mandos e desmandos da ditadura castrista e do embargo Norte Americano a ilha.

Para compreendermos melhor o que representou a visita e o que o Papa transmitiu ao fazer essa visita, gostaria de colocar um série de citações de seus discursos, entrevistas, homilias, etc, bem como um fato que considerei inusitado, e que sem ofender claramente o ex-presidente Fidel Castro, serviu como uma cutucada do Papa aos erros cometidos pelo ex-presidente.

Um dos primeiros atos do Papa foi surpreender o ditador Fidel Castro

O Santo Padre ganhou de presente um péssimo livro do também péssimo Frei Betto, representante da TL, de linha marxista, que ele tanto combatera na Argentina e entre os seus confrades jesuítas, mas respondeu dando como presente aos ditadores da ilha prisão, entre outras coisas, uma coleção de homilias do Pe. Llorente, SJ, orientador espiritual de Fidel antes dele aderir ao comunismo e que foi expulso de Cuba por ser contrário à revolução (extraído do Facebook de Rafael Vitola Brodbeck).

O serviço aos mais pobres não pode ter raiz ideológica

Durante homilia na Praça da Revolução em Havana, o Papa fez questão de frisar que o serviço aos pobres deve ser um serviço da caridade que vem de Deus, e não pode possui motivações ideológicas:

“Este cuidar por amor não se reduz a uma atitude de servilismo; simplesmente põe no centro a questão do irmão: o serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até «padece» com ela e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos a ideias, mas a pessoas.” [1]

Em discurso aos jovens condenou o aborto e a eutanásia e convidou-os a sair de uma visa ideologizada do mundo

Condenando a cultura do descarte, que não mais se preocupa com os jovens, também fez questão de frisar que essa mesma cultura também tende a descartar crianças no ventre de suas mães, através do aborto, e descartar idosos através da eutanásia e de uma eutanásia encoberta, em que os idosos são maltratados e abandonados. Também nesse mesmo discurso, criticou a visão ideologizada da realidade, pois essa acaba por deformar a realidade em esquemas preconcebidos.

“Evidentemente, um povo que não se preocupa em dar trabalho aos jovens, um povo – e, quando digo povo, não digo governos, mas todo o povo, as pessoas que não se preocupam com que estes jovens trabalhem – esse povo não tem futuro. Os jovens tornam-se parte da cultura de descarte. E todos sabemos que hoje, neste império do deus dinheiro, descartam-se as coisas e descartam-se as pessoas. Descartam-se as crianças, porque não querem tê-las ou matam-nas antes de nascer. Descartam-se os idosos – falo do mundo em geral –, descartam-se os idosos porque já não produzem. Em alguns países, há a lei da eutanásia, mas em muitos outros reina uma eutanásia escondida, encoberta”.

“E é preciso também o discernimento, porque é essencial abrir-se à realidade e saber lê-la sem medo nem preconceitos. Não servem as leituras parciais ou ideológicas, que deformam a realidade para caber nos nossos pequenos esquemas preconcebidos, provocando sempre desilusão e desespero. Discernimento e memória, porque o discernimento não é cego, mas realiza-se sobre a base de sólidos critérios éticos, morais, que ajudam a discernir o que é bom e justo.” [2]

A verdadeira revolução que devemos fazer é a revolução da ternura

Em homilia na Basílica Menor da Virgem da Caridade do Cobre, o Santo Padre mostrou como deve ser a verdadeira revolução. Não uma revolução com armas, não uma revolução ideologizada, mas uma revolução da ternura que abre o Coração ao próximo a exemplo da Virgem Maria:

“Geração após geração, dia após dia, somos convidados a renovar a nossa fé. Somos convidados a viver a revolução da ternura, como Maria, Mãe da Caridade. Somos convidados a «sair de casa», a ter os olhos e o coração abertos aos outros. A nossa revolução passa pela ternura, pela alegria que sempre se faz proximidade, que sempre se faz compaixão – que não é comiseração; é padecer com, para libertar – e leva a envolver-nos, para servir, na vida dos outros.” [3]

O futuro a ser deixado aos nossos filhos é um futuro em família

No encontro com as famílias, falando sobre a famosa frase: “Que futuro deixaremos aos nossos filhos?”, o santo Padre fez questão de frisar que este futuro precisa ser a família, este “é o melhor legado.”

“Discute-se muito hoje sobre o futuro, sobre o tipo de mundo que queremos deixar aos nossos filhos, que sociedade queremos para eles. Creio que uma das respostas possíveis se encontra pondo o olhar em vós, nesta família que falou, em cada um de vós: deixemos um mundo com famílias. É o melhor legado. Deixemos um mundo com famílias.” [4]

“E se for necessário que eu recite o Credo, estou disposto a fazê-lo, hein?”

Por fim, já no voo de ida para os Estados Unidos, o Papa respondeu a um jornalista que questionou sobre o que achava de que alguns meios e setores da sociedade americana chegassem “a perguntar se o Papa é católico” pois se já houve “discussões nas que falavam do Papa comunista, agora estão até mesmo os que falam de um Papa que não é católico.”

Respondeu o Papa:

“Um cardeal amigo me contou uma senhora muito preocupada, muito católica, um pouco rígida, mas boa católica, se aproximou dele e perguntou se era verdade que na Bíblia se falava de um anticristo e ele explicou-lhe. E também no Apocalipse, não? E depois, se era verdade que se falava de um anti-papa, que o anticristo, o anti-papa. ‘Mas por que me faz esta pergunta?’, perguntou o cardeal. ‘Porque eu estou segura de que o Papa Francisco é o anti-papa’. ‘E por que pergunta isto? Por que tem esta ideia? ’ ‘E, por que ele não usa os sapatos vermelhos, assim, histórico…?’. Os motivos, de pensar por que alguém não usa os sapatos vermelhos. Os motivos de pensar se alguém é comunista ou não é comunista…

Eu estou seguro de que não disse uma só coisa que não tenha estado na doutrina social da Igreja . No outro vôo uma colega me disse que eu havia estendido a mão aos movimentos populares e me perguntou: ‘mas a Igreja o seguirá? Eu lhe disse: ‘sou eu que sigo a Igreja’. E nisto me parece que não me equívoco.

Acredito que nunca disse uma só coisa que não fosse da doutrina social da Igreja. As coisas podem explicar-se, possivelmente uma explicação deu uma impressão de ser um pouquinho mais esquerdista, mas este seria um erro de explicação. Não, minha doutrina sobre tudo isto, sobre a Laudato Sì’, sobre o imperialismo econômico, tudo isto, é da doutrina social da Igreja. E se for necessário que eu recite o Credo, estou disposto a fazê-lo, hein.” [5]

Referências

  1. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2015/documents/papa-francesco_20150920_cuba-omelia-la-habana.html
  2. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/september/documents/papa-francesco_20150920_cuba-giovani.html
  3. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2015/documents/papa-francesco_20150922_cuba-omelia-santiago.html
  4. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/september/documents/papa-francesco_20150922_cuba-famiglie.html
  5. http://www.acidigital.com/noticias/a-resposta-de-francisco-aos-que-o-chamam-de-comunista-antipapa-e-ate-questionam-se-ele-e-catolico-21270/

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