Descrição
Neste trecho da aula de número 583 do seu Curso Online de Filosofia, o finado professor Olavo de Carvalho (1947-2022) nos dá um exemplo de paralaxe cognitiva, o fenômeno que este filósofo brasileiro descobriu e identificou a partir de suas investigações, que denota de forma inequívoca o problema de não se ter o domínio da língua natal.
Em meio às suas colocações, Olavo faz interessantes considerações a respeito do movimento socialista atual, esquerda x direita, globalismo, governo militar, mentalidade revolucionária, comunismo etc.
Segundo um artigo do Brasil Paralelo, a paralaxe cognitiva é algo grave e perturbador aconteceu na filosofia, especialmente no pensamento moderno. O fenômeno da paralaxe cognitiva não é observado em Sócrates, Platão ou Aristóteles. Tampouco em Santo Agostinho ou Santo Tomás de Aquino.
Este é um fenômeno que o professor Olavo de Carvalho estudou cuja presença pode ser facilmente identificada na filosofia de Descartes, Kant, Marx, Hume e outros.
Exemplo de paralaxe cognitiva: o caso Rui Costa Pimenta
Olavo inicia sua exposição comentando uma entrevista do político Rui Costa Pimenta, que afirma ter se tornado de esquerda enquanto morava no exterior, num tempo em que o Brasil, segundo ele, vivia uma ditadura fechada e censuradora durante o governo Médici.
Olavo contesta essa percepção com base em fatos concretos, relembrando que, ao contrário do que foi dito, o período militar foi o de maior difusão de literatura comunista no Brasil, com editoras como a Civilização Brasileira e a Vitória atuando abertamente — esta última sendo diretamente ligada ao Partido Comunista.
“Parem pra pensar: me diga um livrinho anticomunista que tenha sido publicado pelo governo militar ao longo dos 20 e tantos anos que ele durou. Resposta: nenhum.”
Para Olavo, a ideia de que o regime militar suprimiu a esquerda culturalmente é uma narrativa puramente imaginária, desmentida por qualquer investigação mínima dos fatos. É aí que entra o conceito de paralaxe cognitiva: a discrepância entre a experiência real e a estrutura de discurso utilizada para interpretá-la.
O problema de falar sobre o Brasil “de longe”
Segundo Olavo, muitos intelectuais brasileiros — como o próprio Rui Costa Pimenta — formam suas ideias sobre o Brasil enquanto estão no exterior, completamente desconectados da experiência concreta do povo brasileiro, uma atitude elitista e alienada que está na raiz de grande parte da confusão política atual.
Ele ironiza o fato de que Rui, um comunista declarado, parece ignorar que os grandes capitalistas globais — como bilionários da Big Tech e de grandes bancos — apoiam consistentemente causas da esquerda, como feminismo, ambientalismo e ideologia de gênero.
“Me mostra um desses grandes capitalistas ajudando uma campanha católica ou conservadora. Não tem. Mas pra esquerda, o dinheiro vem em cachoeiras!”
A falsa oposição entre esquerda e direita
Olavo também critica o modelo marxista de análise entre “classe dominante de direita” e “classe oprimida de esquerda”, visto que os grandes capitalistas são os maiores promotores das causas revolucionárias modernas, justamente porque estas ajudam a dissolver os valores morais e religiosos que competem com a lógica puramente econômica.
“A esquerda ajuda os meiacapitalistas a apagar todos os critérios de valor que não sejam econômicos. Isso não é revolução contra o capital. É para o capital.”
Ele aponta que a luta de classes, tal como descrita por Marx, é uma ficção infantil, uma narrativa mal investigada e nunca revisada com base nos fatos. A elite revolucionária atual, segundo ele, está muito mais nos escritórios de tecnologia do que nas fábricas proletárias.
Intelectuais como guias do proletariado?
Olavo expõe a contradição central do pensamento marxista: se o proletariado é a única classe com consciência objetiva, por que precisa ser guiado por intelectuais? Ele mostra como até Marx e Gramsci caíram em armadilhas conceituais ao tentar resolver esse dilema.
“Gramsci percebeu que quem faz a revolução são os intelectuais. Mas aí ficou preso numa cela e nunca pôde fazer nenhuma.”
Olavo também destaca que os intelectuais comunistas que comandam partidos hoje — como o próprio Rui — não têm qualquer vínculo real com o trabalho manual ou com a classe operária, sendo em geral formados por elites acadêmicas.
A esquerda sempre esteve nas mãos do capital
Em seu relato pessoal, Olavo afirma ter trabalhado em fábrica e frequentado a casa de seu patrão, um capitalista simpático que o introduziu ao pensamento comunista. Lá, conheceu pessoalmente líderes históricos da esquerda brasileira.
“Foi na casa do meu patrão que eu tive minhas primeiras noções de comunismo. Isso era comum. Sempre foi a classe capitalista que enfiou essas ideias na cabeça do povo.”
Ao final, Olavo reforça a crítica à paralaxe cognitiva: quem não sabe onde está situado na estrutura da sociedade não pode sequer começar a analisar o que está ao seu redor. Mesmo um desenhista precisa saber sua posição em relação ao objeto que quer retratar. O sociólogo, então, nem se fala.
P.S.: este vídeo foi publicado originalmente em 9 de fevereiro de 2022 no canal Daniel Mota. O trecho foi clipado da aula ministrada em 11 de dezembro de 2021 pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho.
Conteúdo relacionado
Mais informações
- Postado originalmente em: 11 de março de 2022
- Duração: 12:45
- Visualizações: 387
- Categorias: Curtos
- Canais: Olavo de Carvalho, Daniel Mota
- Marcador(es): Antonio Gramsci, Educação, Filosofia, Olavo de Carvalho, René Descartes, Sócrates
- Publicado por: Direita Realista
Disclaimer: exceto quando explicitado na publicação, não temos nenhuma ligação com o conteúdo divulgado ou seu(s) criador(es). É também interessante notar que, apesar do nome do site, nem todo conteúdo publicado aqui pode ser rotulado como "de direita" ou de algo que o valha. Pode ser simplesmente algo interessante e/ou edificante que mereça ser arquivado ou pra realizar um simples registro histórico. Saiba mais sobre o Direita.TV aqui.