Olavo de Carvalho - A diferença entre a mentira e a verdade

O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho aborda como se pode aprender a perceber a diferença entre a verdade, a mentira e aquilo que apenas parece verdadeiro por meio da literatura e da formação do senso da verossimilhança. Acesse aqui a descrição completa.


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Descrição

Neste vídeo, possivelmente um sucinto fragmento de alguma de suas aulas de seu Curso Online de Filosofia, Olavo de Carvalho (1947-2022) aborda como se pode, por meio da literatura e da formação do senso da verossimilhança, aprender a perceber a diferença entre a verdade, a mentira e aquilo que apenas parece verdadeiro.

O verossímil como treino para o verdadeiro

Segundo Olavo, ninguém consegue discernir o verdadeiro se não for antes capaz de perceber o verossímil, o que não significa que não se pode saltar direto da ignorância para a verdade sem antes ter treinado a sensibilidade intelectual para o que parece plausível. É aí que entra o papel essencial da literatura de ficção.

Ler bons romances, contos e obras literárias, mesmo desde a infância, não é um luxo nem um passatempo fútil, mas uma etapa fundamental para a formação intelectual e filosófica do indivíduo, treino sem o qual a mente permanece incapaz de navegar com precisão entre o real e o ilusório.

O perigo do analfabetismo funcional nas ciências

Olavo exemplifica como até pessoas com excelente formação técnica ou científica podem ser presas fáceis de confusões intelectuais básicas, relatando o caso de um engenheiro que acreditava que tudo em Newton derivava da experiência empírica, sem perceber que noções fundamentais como espaço e tempo absolutos são conceitos apriorísticos, criados pela mente humana independentemente da experiência sensível.

Na sequência, outro personagem, um divulgador de ciência, também demonstra total confusão a respeito dos fundamentos do pensamento científico, não por falta de conhecimento técnico, mas por falta de cultura literária e incapacidade de leitura profunda, resultado que consiste num analfabetismo funcional generalizado — inclusive entre as elites técnicas.

O símbolo como expressão da realidade

Noutro exemplo, Olavo comenta a celeuma gerada pela famosa fala de Damares sobre “menina veste rosa, menino veste azul”, e critica um tal de Celso de Mello por considerá-la ofensiva aos transexuais. No entanto, a fala seria apenas uma expressão simbólica da identidade física, um dado da realidade, e não uma imposição cultural arbitrária.

E mais: se não houvesse uma consciência clara da diferença entre os sexos, não poderia haver sequer a ideia de transição de gênero, o que seria basicamente um raciocínio circular e, portanto, falacioso. A transexualidade, portanto, pressupõe a diferenciação sexual simbólica e real — e não a elimina.

A importância da formação literária e da fortuna crítica

Voltando à questão da formação, Olavo fala de sua própria trajetória e do valor do método da fortuna crítica — o levantamento do conceito público de determinados autores e obras a partir das críticas escritas a seu respeito, o que inclusive foi o padrão no qual direcionou suas leituras e organizou sua biblioteca: lendo os autores mais citados, e depois aprofundando-se apenas naqueles que se mostravam realmente relevantes.

Esse método, embora imperfeito, ajuda o estudante sério a não perder tempo com modismos ou nulidades intelectuais — como muitos dos nomes celebrados na academia brasileira. Em contraste, temos pensadores brasileiros ignorados mas valiosos, como Mário Ferreira dos Santos, Vicente Ferreira da Silva, Padre Maurílio Teixeira-Leite Penido e Vilém Flusser.

A cultura como defesa contra a confusão

Ainda de acordo com o exposto pelo filósofo brasileiro, a insegurança brasileira diante do conhecimento vem de uma cultura sem normas claras, marcada por regras sociais implícitas e arbitrárias, ao contrário de sociedades mais organizadas, como a americana.

Sem uma formação literária sólida desde cedo, o brasileiro chega à universidade já em estado de confusão, e acaba perdido diante de obras filosóficas e jurídicas complexas, o que acaba tendo como consequências a inconstância institucional, o analfabetismo funcional nas elites e a perpetuação do caos cultural. Sem literatura, sem treino do verossímil, não há verdade — apenas confusão.


P.S.: este corte foi providenciado pelo canal Inteligência Corp., onde foi publicado originalmente em 21 de agosto de 2021.

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