Padre Jose Eduardo – O momento demanda sensatez

Este é um texto do Pe. José Eduardo que, diante do caso da menina de dez anos que foi violada por um parente e teve uma gravidez como resultado da violência sexual, afirma que o momento demanda sensatez, mesmo com toda a comoção.


Este é um texto de autoria do Padre José Eduardo que, diante do caso da menina de dez anos que foi violada por um parente e teve uma gravidez como resultado da violência sexual, afirma que o momento demanda sensatez, mesmo com toda a comoção justificadamente gerada.

O texto foi publicado originalmente na página oficial do sacerdote católico no Facebook ao dia 17 de agosto de 2020, mas, como esta rede social não é minimamente confiável, trata-se de um assunto de suma importância e este padre é uma das melhores vozes em nosso país a se pronunciar sobre o tema (além de gozar da autoridade conferida pelo ministério instituído por Nosso Senhor), resolvemos arquivar o post inteiro, na íntegra e sem edições, aqui.

O momento demanda sensatez

Tenho acompanhado o caso da menina de dez anos que foi violada por um parente e teve uma gravidez como resultado da violência sexual. A absurdidade da situação causa em todos nós uma justificada comoção, a qual pode, porém, ser usada de modo a obscurecer uma análise atenta e racional dos fatos.

Gostaria de chamar a atenção para alguns detalhes:

1. O movimento que visa a expansão da prática do aborto adota como técnica retórica a sistemática invisibilização do bebê. E a razão disso foi explicitamente declarada pela então presidente das “Catholics for Choice”, Frances Kissling, na entrevista que concedeu a Rebecca Sharpless em 2002, Washington DC:

Quando você contrapõe um feto contra uma mulher, a mulher perde. Você sabe disso. Bebês contra mulheres, os bebês vencem“.

2. Ora, no caso concreto deste fim de semana, todo o noticiamento silenciou cuidadosamente o fato de que o bebê estava com 23 semanas de gestação, ou seja, quase seis meses. Tratava-se de um bebê já formado.

3. O objetivo deste silenciamento era: – fazer o aborto acontecer às pressas, através de uma autorização judicial, para conseguir-se um precedente; – manter a opinião pública imobilizada ou confusa, concentrando todas as atenções sobre a violência sexual, fazendo apelo aos sentimentos de revolta da população; – amordaçar todos os pró-vidas como fanáticos, fundamentalistas, obscurantistas que querem apenas salvar a vida de um bebê, a despeito da vida da mãe.

4. A força desta retórica está na invisibilização do bebê, mas também na mentalidade utilitarista que se conseguiu incutir na mente das pessoas, que pensam mais ou menos assim: “como uma criança vai gestar uma criança?, e esta menina, não vai para a escola?, quem vai cuidar do bebê?” – São questões importantes, mas cuja solução ética é também exigente.

Em outras palavras, todos nós temos muitos problemas que, por exemplo, se revolveriam com a eliminação de uma pessoa, mas esta não é a solução verdadeira, pois não se pode atropelar uma vida humana.

Aqui, a afirmação de um aspecto (a vida do bebê) não equivale à negação do outro (a vida da mãe). Trata-se de um falso dilema. A verdadeira solução ética consistiria em salvar as duas vidas e fazer tudo que fosse humanamente possível para tornar as duas viáveis, coisa que é muito mais exigente e que demanda muito mais atenção.

5. Do ponto de vista da justiça, a invisibilização do bebê constitui uma gravíssima iniquidade. Qualquer pessoa minimamente lúcida sabe que é errado condenar um inocente a qualquer pena (num estado democrático, existe não apenas a presunção de inocência quanto o direito à ampla defesa). Quando falamos sobre a “pena de morte”, então, a questão se torna imensamente mais delicada.

Ora, quem não conseguirá perceber o absurdo horror que consiste em condenar um bebê inocente à pena de morte, sem que ele tenha feito nada de errado e sem possibilidade alguma de defesa? Será que alguém é incapaz de perceber o quanto isso é injusto?

O verdadeiro culpado, o estuprador, deve ser duramente punido (se já não o foi), bem como os responsáveis pela criança (vale dizer, pelas duas crianças).

6. Parece que o processo de aborto já foi iniciado com uma injeção de cloreto de potássio no coração do bebê (ao menos foi o que li na internet). A gestante corre riscos com o procedimento e, além do trauma da violência sexual e do aborto, pode ter sequelas graves em seu próprio corpo. Em outras palavras, em benefício do aborto, inviabiliza-se não apenas o bebê, mas também os próprios malefícios do aborto na vida da mulher.

7. Por fim, nós precisamos zelar pela nossa própria mente, pois desgraçadamente há todo um sistema de educação projetado para formar pessoas passivas à cultura da morte. Temos de vigiar sobre os nossos pensamentos, sentimentos, palavras, ações e omissões.

As fundações interessadas em promover o aborto amam explorar casos de comoção pública não apenas para avançar em sua agenda de ampliação do aborto, mas também para nos encurralar psicologicamente, para nos fazer trair nossas convicções através de sentimentos contraditórios, para derrubar as nossas resistências intelectuais.

Tenha muito cuidado. Uma análise sincera e atenta da situação pode facilmente mostrar que, numa drama de tão grandes proporções, nenhuma solução é realmente isenta de dores, mas existe sempre um caminho mais justo e mais humano com todas as vidas em questão.

Em todo caso, rezemos por esta mãe, por este bebê, pelos pais e por todos, rezemos pedindo perdão a Deus por este grave e irreparável dano feito a uma vida inocente. Que Deus tenha misericórdia de nós todos e nos ajude a combater a violência sexual, o aborto e todas as injustiças decorrentes disso tudo.

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