Ideologia de gênero e a seriedade do momento

Padre José Eduardo fala sobre ideologia de gênero e a seriedade do momento, argumentando que o Brasil está a beira no caos diante da PL 4754.


O Brasil está à beira de um caos e precisamos fazer algo!

A ideologia de gênero pode ser considerada sob dois aspectos diferentes e complementares: como ideologia formada a partir de estudos interdisciplinares, que engendraram uma nova concepção da identidade, dissolvida a partir de uma epistemologia antisubstancialista, desconstrucionista e pós-estruturalista; ou como um recurso político para a efetivação de uma verdadeira revolução social.

O primeiro aspecto é bastante comentado, especialmente em palestras que focalizam o assunto sob a perspectiva históricofilosófica, mostrando a incongruência das chamadas “teorias de gênero” e o seu conteúdo substancialmente ideológico.

O segundo aspecto é, contudo, o mais importante no momento e, dada a proximidade da votação do dia 11/11 no STF, é este que gostaria de salientar.

Para entendê-lo, precisamos saber que a impetração da ADI 5668 por parte do PSOL afirma que: 1) ideologia é a negação de qualquer realidade com base numa ideia; 2) a existência de pessoas LGBTQI+ é uma realidade e negá-lo seria uma ideologia; 3) portanto, o STF teria de declarar a obrigatoriedade do ensino das “teorias de gênero” nas escolas do Brasil, visto que a Constituição veda qualquer tipo de discriminação.

O argumento é falacioso por diversos motivos. O primeiro e o mais importante dos quais é que simplesmente a “ideologia de gênero” não afirma a identidade de pessoa alguma, antes, contraria a noção mesma de identidade e, deste modo, é maximamente ideológica (a identidade seria apenas a performance transitória e fluida, sequer suportada por um sujeito).

Contudo, como toda ideologia, a de gênero trabalha com polissemia e, portanto, explora variações com o objetivo preciso de desorientar o interlocutor e deixá-lo nas condições de fazer justamente aquilo que os ideólogos pretendem.

A gravidade da situação é, contudo, ainda mais séria. E, isso, por duas razões:

  1. Se o STF julgar procedente a ADI, o ensino de gênero será considerado obrigatório em todas as escolas. A reversão deste quadro será praticamente impossível, pois, decidindo ser inconstitucional a não obrigatoriedade do ensino da ideologia de gênero, o único modo para se reverter o quadro seria a tentativa de um Projeto de Emenda à Constituição (que requer maioria absoluta na Câmara e no Senado), mas nem sequer isto seria realmente possível, pois o STF tem poderes para julgar como inconstitucional inclusive uma PEC, alegando violação de cláusula pétrea, o que tornaria a situação ainda mais crônica e irreversível.
  2. Pressupondo que a ideologia de gênero se torne obrigatória, isto iniciará no Brasil um tipo de revolução política muitíssimo mais profunda do que aquelas que já aconteceram na história.

Explico.

A Revolução Francesa, a partir da filosofia iluminista, pretendeu dissolver a nobreza para gerar a burguesia, uma elite formada unicamente a partir de critérios econômicos, sob uma ideologia igualitarista.

A Revolução Comunista, a partir da filosofia hegeliana, que é bem mais radical que a iluminista, entendia que a dissolução da burguesia seria a etapa histórica sucessiva, que necessariamente criaria uma ditadura do proletariado, sob uma ideologia igualitarista e totalitária ainda mais forte.

Porém, Marx e Engels já tinham percebido que não seria possível fazer uma Revolução profunda sem acabar com a célula madre da sociedade, a família. Aos poucos, o movimento marxista percebeu que, para destruir a família, era preciso destruir a complementaridade do homem e da mulher (o que chamam de heterossexualidade ou heteronormatividade).

Ora, a ideologia de gênero é a ferramenta para o completo desmonte da complementaridade do homem e da mulher através da completa dissolução da própria noção de masculino e feminino.
Isto significa que, caso a ADI 5668 seja aprovada pelo STF – e a maior probabilidade é que o seja – estaremos entrando numa nova Revolução, que irá dissolver a própria família, dissolvendo a identidade das criancinhas desde a escola. Que a personalidade de uma criança esteja em formação e possa ser profundamente manipulada, isso é de escandalosa obviedade.

É evidente que estes resultados não se percebem de imediato, mas apenas depois de dez ou vinte anos podem ser visíveis na superfície da sociedade: é necessário ter toda uma geração formada nas escolas para, depois, observar-se o fenômeno da dissolução do tecido social em larga escala.

O que fazer diante disto? É preciso que nos manifestemos fortemente, usando a única arma que nós temos. Os ministros do STF não são eleitos pelo povo e, deste modo, não são suscetíveis à pressão popular. Apenas os deputados e senadores o são.

Por isso, eles podem usar um instrumento de pressão: o PL 4754 que responsabiliza os ministros do Supremo por crime de responsabilidade caso usurpem prerrogativas do poder legislativo, o que abriria o caminho para processos de impeachment.

Precisamos agir e pedir que o PL 4754 seja pautado antes da votação do dia 11/11. Caso contrário, corremos o risco de entrar numa nova revolução, da qual não teremos mais volta.


O texto acima é de autoria do Padre José Eduardo e foi enviado em seu canal do Telegram.

Abaixo, segue uma entrevista que ele cedeu já alguns anos, mas que continua uma excelente aula sobre ideologia de gênero, especialmente para quem quer entender melhor esse assunto:

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