Descrição
Neste trecho de sua palestra sobre o livro Esperando Godot, se Samuel Beckett, o saudoso professor e economista José Monir Nasser (1957 – 2013) aprofunda-se em uma discussão sobre como a perda do sentido da vida, característica da era moderna, alimenta o culto ao fracasso e à incapacidade de ação.
Utilizando a literatura ocidental como fio condutor, Nasser traça uma linha histórica que vai desde as figuras heroicas e lendárias, até os personagens irônicos e impotentes que dominam a narrativa contemporânea.
A descida literária: Do Heroísmo à Ironia
Segundo Monir, a história da literatura ocidental é marcada por uma progressão na representação dos personagens. Originalmente, eram figuras lendárias, símbolos de grande poder e realização. Com o passar do tempo, foram gradualmente substituídos por figuras cada vez mais impotentes, culminando na personagem irônica, tão comum na literatura moderna.
Essa “descida” literária acompanha um movimento cultural mais amplo. A literatura passou a refletir a realidade de uma sociedade em que os indivíduos se encontram em um “buraco existencial”, sem o poder de agir para mudar sua situação.
O teatro do absurdo e o existencialismo
Nasser faz referência ao teatro do absurdo, que é um produto direto desse movimento cultural. Obras de autores como Samuel Beckett ilustram a visão existencialista de que a vida não tem sentido, direção ou propósito. Segundo ele, o teatro do absurdo é uma das mais fortes manifestações artísticas dessa percepção, onde os personagens são apresentados como figuras que não conseguem realizar nada, completamente desprovidas de ação.
São também mencionados autores existencialistas como Sartre e Camus, que, embora compartilhem dessa visão de um mundo sem sentido, a interpretam de formas diferentes. Para Camus, o absurdo da vida é uma doença, algo que deve ser combatido. Já Sartre, com sua obra “O Ser e o Nada”, teoriza esse estado de existência, explorando o vazio da vida humana.
A personagem irônica: o reflexo da modernidade
Monir ressalta que a figura central da literatura moderna é a personagem irônica, que se caracteriza pela impotência e pela incapacidade de agir. Diferente das figuras heroicas do passado, esses personagens são prisioneiros de um ciclo de inação, o que reflete o estado da vida moderna. Para ele, isto é reflexo de uma sociedade que perdeu completamente o sentido da vida e se vê incapaz de realizar qualquer mudança significativa.
A perda do sentido da vida e o esvaziamento da ação
O que José Monir Nasser aponta como o grande problema da modernidade é a perda do sentido da vida. Sem um sentido maior, sem uma narrativa transcendental que guie as ações humanas, as pessoas se tornam personagens irônicas em suas próprias vidas, incapazes de agir ou de encontrar propósito. Essa perda de sentido gera um “buraco existencial”, do qual os indivíduos não conseguem sair. E é nesse vácuo que o culto ao fracasso ganha força, onde a impotência e a derrota se tornam símbolos predominantes na cultura.
Essa análise levanta questões profundas sobre o papel da literatura e da cultura na formação da identidade moderna. O professor Nasser nos convida a refletir sobre a forma como nos vemos e como, ao perdermos o sentido da vida, acabamos por abraçar a impotência e o fracasso como componentes inevitáveis da existência.
P.S.: este vídeo foi clipado e publicado originalmente pelo canal Ewerton Kleber em 14 de fevereiro de 2019.
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Mais informações
- Duração: 10:00
- Visualizações: 19
- Categorias: Curtos
- Canal: Ewerton Kleber
- Marcador(es): Cultura, José Monir Nasser, Literatura
- Publicado por: Equipe Direita Realista
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