Descrição
Neste trecho de sua palestra a respeito da tragédia grega Antígona, de Sófocles, o saudoso professor e economista José Monir Nasser (1957 – 2013) discorre sobre a lamentável perda do sentido das tragédias e do sagrado, o que veio se estabelecendo cada vez mais nas sociedades humanas aos últimos tempos.
Ele também explica a ideia da tragédia, palavra aqui usada como a forma de drama, o que “é uma declaração de impotência humana”. Ou seja, o sentido parece com o de tragédia fora deste contexto também. Esse conceito foi se perdendo com o tempo, substituído por outras formas de narrativa que enfatizam um protagonismo humano ilusório e a crença na capacidade total de controle sobre o mundo.
Monir Nasser argumenta que, na tragédia grega, os deuses exercem um papel fundamental, estabelecendo as regras e decidindo os rumos dos homens, que são vítimas de uma ordem maior. Com o passar dos séculos, especialmente após o Renascimento, essa visão foi sendo gradualmente substituída por uma concepção mais secularizada, onde o sagrado perdeu sua centralidade e o ser humano passou a se enxergar como o centro da existência.
Esse deslocamento culminou na era moderna, onde a ideia de tragédia foi praticamente extinta, dando lugar a narrativas em que os problemas da humanidade são tratados como resultados de erros humanos ou de fatores sociais passíveis de solução. Dessa forma, em vez de aceitar a existência de forças superiores incontroláveis, as sociedades modernas buscam um culpado para cada adversidade, resultando na criminalização de indivíduos ou grupos inteiros.
Segundo Monir Nasser, esse pensamento leva a uma visão reducionista da realidade, onde todas as dificuldades humanas são atribuídas a estruturas de poder ou a manipulações políticas. O ser humano, que na tragédia clássica era visto como um agente limitado pela ordem universal, passa a se perceber como uma vítima de forças externas, e não mais como parte de um destino maior. Essa mudança de perspectiva tem conseqüências profundas na forma como a sociedade moderna entende a si mesma e suas relações de poder, influenciando debates políticos, sociais e culturais.
A reflexão de Monir Nasser se alinha com críticas frequentes feitas por Olavo de Carvalho, que também apontava para o enfraquecimento da consciência do sagrado como um dos fatores que possibilitaram a ascensão do pensamento revolucionário moderno. Em suma, ao negar a existência de uma ordem transcendental e absoluta, a modernidade abriu espaço para a manipulação ideológica da realidade, onde a história é reescrita conforme interesses políticos e o indivíduo se torna refém de uma ilusão de controle absoluto sobre seu destino.
P.S.: este vídeo foi clipado pelo canal Ewerton Kleber e publicado originalmente em 11 de janeiro de 2019.
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Mais informações
- Duração: 13:00
- Visualizações: 3
- Categorias: Curtos
- Canal: Ewerton Kleber
- Marcador(es): Cultura, José Monir Nasser, Literatura
- Publicado por: Equipe Direita Realista
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