Tenente Starbuck… Perdido na castração

Dirk Benedict, em suas próprias palavras, conta como a cultura de massas despreza a figura do homem, usando como exemplo de como e o porquê de um carismático personagem masculino da série Battlestar Galactica original ter sido substituído por uma versão feminina na reimaginação da mesma.


Tenente Starbuck… Perdido na castração é um artigo escrito pelo ator Dirk Benedict, que interpretou o Face (ou Templeton Peck) na série A-Team (o famoso “Esquadrão Classe A”) e o Tenente Starbuck, na Battlestar Galáctica original.

O texto, que foi traduzido pelo Barãozin, do Canal do Búfalo, expõe como a cultura de massas despreza a figura do homem, usando como exemplo de como e o porquê do carismático personagem interpretado pelo ator na BSG ter sido substituído por uma versão feminina, na reimaginação (ou remake) da série. Cremos que o artigo foi escrito em 2009. Não temos certeza, pois foi o original foi apagado, por algum motivo.


Era uma vez, numa terra distante chamada Hollywood (que agora virou apenas um “estado de espírito”), foi dado a um jovem ator um script e lhe foi perguntado se ele toparia dar vida a um personagem chamado Starbuck. Eu era o ator. O script era de uma série chamada “Battlestar Galactica”.

Felizmente, eu era novo, tinha uma imaginação fértil e glândulas supra renais fortes na época, porque trazer Starbuck à vida era fora de questão para a maioria dos executivos da área. Todas as características de personalidade que eu lutei para dar ao personagem receberam muita oposição. Um mulherengo charmoso? Os executivos detestaram. Um fumante inveterado de charutos (fumerello)? Os executivos odiaram. Um herói rebelde que via graça até nas piores situações? Os executivos odiaram. Toda essa resistência me convenceu que eu estava fazendo o certo.

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Da esquerda para direita: Richard Hatch (Apollo), Lorne Greene (Adama) e Dirk Benedict (Starbuck)

Starbuck foi feito para ser um cafajeste adorável. Era o melhor para o show, o melhor para o personagem e o melhor que eu poderia ter feito. Os executivos não pensavam assim. “Mais um charuto e ele estará demitido”, dizia a eles Glen Larson, o criador do seriado. “Nós queremos que o Starbuck agrade a audiência feminina , que as façam gritar.” Veja vocês, os executivos sabiam que mulheres não gostam de caras que fumavam charutos, especialmente caras jovens. Como eles “sabiam” disso nunca foi revelado. E eles não paravam aí. “”Se Dirk não parar de fazer as cenas com mulheres de uma maneira que pareça que ele quer levá-la a cama, ele estará demitido.” Isto é, bem, uma heterossexualidade flagrante, tratar mulheres como “objetos sexuais”. Eu pensei que só estava flertando. Esquece, eles não pensaram assim. Não teria nenhuma outra maneira de fazer diferente. Então, nós vencemos, Starbuck e eu. O seriado, como diz o ditado, passou e o resto é história: mulheres de todo o mundo me mandavam caixas de charutos, números de seus telefones, pedidos de encontros e até mesmo propostas de casamento.

Os executivos não se impressionaram. Eles querem as coisas de seu jeito, e depois de uma temporada fumando, flertando e apostando, Starbuck, o canalha adorável, foi finalmente demitido. Ou seja, “Battlestar Galactica” foi cancelado. Starbuck, é claro, não foi cancelado, mas simplesmente virou outro heterossexual assumido que fumava seu charuto e flertava geral chamado Faceman. Outro seriado, outro grupo de executivos, e é claro, outro remake, com o novo filme do Esquadrão Classe A.

Era um tempo, eu sei porque vivi nele, que homens eram homens, mulheres eram mulheres e algumas vezes um charuto era apenas um bom passatempo. Mas 40 anos de feminismo cobram caro. A guerra contra a masculinidade foi vencida. Tudo foi invertido, então o que no passado não passava de um mero flerte e fumar um charuto se tornaram em assédio sexual e em crime. E o resultado disso tudo é que todos se tornaram mais miseráveis e solitários.

Testemunha da nova e “reimaginada” “Battlestar Galactica”, desesperada, miserável, triste, com raiva e confusa. O que quer dizer, que reflete seu microcosmo a completa mudança na política e na moralidade atuais, ao contrário do passado. O mundo de Lorne Greene (Adama), Fred Astaire (o pai de Starbuck) e Dirk Benedict (Starbuck). Imagino que Lorne esteja feliz de estar num lugar bem melhor agora no céu e bem longe deste mundo. Starbuck não foi tão sortudo. Ele não foi deixado ignorado no mundo mais trivial dos personagens de seriados cancelados.

“Reimaginado”, eles dizem. Mas “inimaginado” seria melhor. Para pegar o que já foi e distorcê-lo em algo que não foi o destinado a ele. Assim um seriado baseado na esperança, na fé e na família é “inimaginado” e vomitado como um seriado sobre o desespero, violência sexual e disfunção familiar. Para melhor demonstrar os tempos de moralidade ambígua que vivemos, talvez. Num seriado onde os aliens (Cylons) tem seu desejo de destruir a raça humana com algo justo, talvez. É claro, não podemos dizer quem é o lado bom e quem é o lado ruim aqui. Isto é “julgar os outros”, assumir um lado, e um modo (simplista) de ver o mundo, dignos de dinossauros como Margaret Thatcher e Ronald Reagan, de Kathryn Hepburn e John Wayne, e é claro, do “Battlestar Galactica” original.

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As protagonistas da versão “inimaginada” do BSG.

No triste e miserável mundo “reimaginado” de “Battlestar Galactica”, as coisas nunca são simples. Talvez os Cylons não são maus, mas quem sabe são iluminados e evoluídos? Não vamos julgá-los assim. Quem sabe eles é que merecem viver e Adama e sua malta de humanos é quem tem que morrer? E como as coisas mudam! Agora os terrorista “reimaginados” (Cylons) não são mais robôs desalmados e sem sexualidade, mas sim humanoides de um metro e oitenta que parecem saídas daqueles comerciais de lingerie e que irão foder com você até a morte. (Coitado do Starbuck, você foi criado muito cedo. Imagine em toda a diversão que você teria “lutando” contra essas aliens gostosonas!) E neste espírito de sci-fi pornô, eu penso que um título “reimaginado” que ficaria muito bom para a nova série seria “Fodido por um Cylon”.

Uma coisa é certa. No novo mundo “reimaginado” de Battlestar Galactica, tudo é muito feminino. Os personagens masculinos, de Adama para baixo, são todos uns confusos, fracotes e perdidos na indecisão, enquanto as personagens femininas são decididas, espertas, nervosas, fumantes (cof cof!) e não levam desaforo pra casa.

Alguém pode perceber rapidamente o problema do Starbuck original na visão dos reimaginadores. O Starbuck era todo charme e humor, flertando geral sem deixar transparecer nenhuma raiva em seu corpo mulherengo. Sim, ele era bem “feminino”, mas não do jeito politicamente correto da tv reimaginada de hoje. O que fazer, pensaram os reimaginadores? Deixá-lo como ele era, com seu olhar malicioso, um cigarro na boca e uma garota em cada galáxia? Ah, isso não pode. Isso seria tão fora de lugar quanto uma chuteira numa gaveta de calcinhas. Starbuck se recusa a ser reimaginado. Isto se tornou o grande dilema. Como ter o Starbuck original e não tê-lo ao mesmo tempo?

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Um cylon da série original.

As geniais mentes no mundo da inimaginação dobraram suas doses de cafezinho e se reuniram em seus escritórios livres de cigarros para amaldiçoar o dia em que aquele piloto machista da Viper foi criado. Mas nunca subestime o poder das mentes inimaginativas que encontram um obstáculo (personagem) que eles odeiam inconscientemente. Eureka! Starbuck seguirá o mesmo caminho da maioria dos homens de hoje. Starbuck se transformará em “Stardoe”. O que os executivos de 25 anos atrás foram incapazes de fazer, os de hoje fizeram rapidinho. Só foi “cortar as bolas” dele fora!

E a palavra veio lá do mundo da inimaginação para iluminar os executivos em suas salas de não fumantes: “Starbuck morreu. Vida longa a Stardoe!”

Não tenho certeza se o charuto na boca de Stardoe tem a mesma simbologia que tinha na boca de Starbuck. Talvez. Talvez até signifique mais. Talvez este seja o ponto principal, eu não sei. Só tenho certeza é disso…

Mulheres são de Vênus. Homens são de Marte. Hamlet não pode se transformar em Hamletta. Nem Hans Solo em Hans Sally. Faceman não seria o mesmo que Facewoman. Nem Stardoe seria um Starbuck. Os homens ficam com os charutos. As mulheres “ficam” com os bebês. E é assim que o mundo gira a centenas de anos.

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Uma imagem não apenas estranha, com as mulheres com uma dominante na imagem, enquanto os homens aparentam fraqueza, mas também fazendo uma gozação do famoso quadro que representa a Santa Ceia.

Eu também tenho certeza que o show business está se transformando faz algumas décadas e está finalmente se transformando no “biz business”. Os artistas criativos perderam e os executivos ganharam. Executivos. Administradores. Tecnocratas. Homens (e mulheres) metro sexuais que são apaixonados apenas pelo dinheiro, que criam formas cada vez mais eficientes de garantir o lucro. Porque os filmes não foram feitos para iluminar mentes ou mesmo entreter, mas sim para fazer dinheiro. Eles vão dizer (por enquanto) que o que importa é a história e o personagem, mas na verdade o que realmente importa é a eficiência. A fórmula. Por causa que Hollywood foi tomada por tecnocratas vindo da escola de administração de Harvard eles vão remover tudo aquilo que os tecnocratas sabem fazer de melhor: os riscos. E eu te digo, a vida, a vida real, é 100% baseada no risco. E te digo que sem riscos não há criatividade, não há arte. Eu digo que sem riscos você só terá remakes de filmes antigos. Você só terá “As Panteras”, “Missão Impossível”, “Esquadrão Classe A” e “Battlestar Galactica”.

Todas franquias famosas, sem riscos.

Para você ver, seriados e filmes estão sendo feitos e vendidos usando a mesma fórmula comercial das redes de fast food. Então não importa se aquele realmente é o “melhor” hambúrguer, é você “achar” que aquele é o melhor. E você vai pensar assim porque eles estão te dizendo que é; porque suas celebridades favoritas vão na tv e anunciarão ele. A grana de verdade não é conquistada com o hamburguer em si ou com o seriado, mas sim com marketing que estes dois produtos podem gerar (um comercial de 1 minuto pode custar mais que fazer um episódio de seriado com 1 hora.) Os executivos não estão ligando se o personagem principal é Starbuck ou Stardoe, se os aliens são robôs ou modelos gostosas, se é um show que exala otimismo e moralidade ou pessimismo e amoralidade. O que importa é se ele é bem anunciado, então todas as pessoas ficarão com vontade de ver o seriado. E depois de vê-lo, lhe será dito que você tem que gostar dele. Afinal, ele é tão moderno, tão inteligente e sexy e o melhor de tudo… ele é Reimaginado!

Então pegue uma coca cola na sua geladeira (não a coca cola original, mas sim uma versão reimaginada com menos calorias) e pegue seu hambúrguer (a versão reimaginada com menos carboidratos) e assista Stardoe e Cylon #6 (ou seria #69?) e aproveite o show.

E se por acaso não gostou do seriado, ou da coca cola ou do hambúrguer, não é culpa dos nossos tecnocratas reimaginativos que os trouxeram para você. A culpa é sua. Sua e de seu individualismo, seus gostos e de seu julgamento – sua recusa de esquecer as memórias do show que você viu no passado. Você não sabe o que é bom para você. Mas fique ligado. Depois de mais 13 episódios (e milhões gastos com propaganda) você verá a luz. Você, seus instintos, seu julgamento, estão todos errados. McDonalds É o melhor hambúrguer do planeta, coca cola a melhor bebida e Stardoe É a melhor piloto da Viper em toda a Galáxia.

E “Battlestar Galactica”, ao contrário do que sua memória diz, nunca existiu antes da versão reimaginada de 2004.

Eu discordo. Mas, talvez, você tenha que estar lá.

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