Guilherme Freire – Os regimes políticos na República de Platão

Guilherme Freire faz uma análise dos regimes políticos na República de Platão, explorando os modos de governo, a queda da República e sua gradual transformação em tirania, passando pela aristocracia, a timocracia, a oligarquia e a democracia. Acesse aqui a descrição completa.


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Descrição

Nesse vídeo originalmente publicado ao dia 29 de maio de 2020, Guilherme Freire faz uma análise filosófica dos regimes políticos na República de Platão, considerando o seu livro VIII, particularmente no Livro VIII, onde Platão descreve a degeneração dos modos de governo.

Guilherme explora o conceito da “tripartição da alma”, que fundamenta a estrutura social proposta por Platão e estabelece uma correspondência entre a alma humana e as classes sociais da cidade ideal. Ele também explora ps modos de governo, a queda da República e sua gradual transformação em tirania, passando pela aristocracia, a timocracia, a oligarquia e a democracia.

A seguir, tentamos detalhar os pontos principais apresentados por Freire, organizando o conteúdo para facilitar a compreensão:

Estrutura da alma e organização da cidade ideal

Platão constrói sua teoria política em A República relacionando a estrutura da cidade à tripartição da alma. Freire relembra que essa tripartição inclui:

  • Desejo: a parte inferior da alma, relacionada a necessidades físicas como alimentação, reprodução e dinheiro.
  • Coragem: a parte intermediária, responsável por impulsos como a bravura e a vontade de luta.
  • Razão: a parte superior, relacionada ao conhecimento e ao contato com ideias transcendentes e à busca pela verdade.

Na cidade ideal, esses aspectos da alma se refletem nas classes sociais:

  • Artesãos: representam o desejo e as necessidades materiais, sendo responsáveis pela economia e produção.
  • Guardiões: vinculados à coragem, são os protetores da cidade e mantém a ordem.
  • Filósofos-Reis: simbolizam a razão e são aqueles que, ao buscar o conhecimento mais profundo, governam a cidade de acordo com a justiça.

Essa estrutura idealizada por Platão resulta em um regime aristocrático onde os “melhores” governam, tendo como ápice o filósofo-rei, aquele que conhece a verdade e é o mais qualificado para guiar a cidade.

Aristocracia: o governo dos melhores

No contexto da aristocracia, Freire explica que Platão utiliza o termo “aristocracia” em seu sentido original: governo dos mais virtuosos, e não dos mais ricos ou nobres por herança, exercido pelos filósofos, que buscam a justiça e o bem da cidade.

Contudo, Freire enfatiza que Platão reconhece a fragilidade desse regime ideal. Na prática, os cidadãos muitas vezes não são justos, o que causa a degeneração desse modelo político. A aristocracia ideal, focada na virtude, acaba sofrendo uma transformação.

Timocracia: o Governo da honra e glória

À medida que a aristocracia degenera, surge a timocracia, regime caracterizado pela busca de honra acima da verdade, que valoriza o prestígio e o triunfo militar, levando os governantes a buscarem glória pessoal.

Freire destaca que esse regime ainda possui virtudes, pois incentiva a coragem e o sacrifício pessoal. No entanto, a valorização excessiva da honra militar faz com que os interesses da cidade passem a ficar em segundo plano. Em vez de focar na justiça e no bem coletivo, os líderes buscam reconhecimento individual, comprometendo a ordem e a harmonia social.

Oligarquia: o governo dos ricos

Freire prossegue para a oligarquia, um regime em que o poder é centralizado nas mãos dos mais ricos. Aqui, a motivação dos governantes deixa de ser a honra e passa a ser a acumulação de riquezas. Esse regime surge quando os cidadãos percebem que o dinheiro pode proporcionar vantagens e status sem a necessidade de envolvimento direto em conflitos ou sacrifícios.

A oligarquia se caracteriza pela desigualdade econômica e preservação dos privilégios da elite. Como consequência, o poder é direcionado para assegurar o bem-estar de poucos, ignorando o bem-estar coletivo. Essa desigualdade gera ressentimento, e a sociedade oligárquica se torna um terreno fértil para o surgimento de problemas sociais e revoltas.

Democracia: o governo da liberdade

A corrupção da oligarquia dá origem à democracia, na qual o poder é distribuído entre o povo. No entanto, Freire aponta que Platão vê a democracia como um regime em que a busca por liberdade extrema leva a um excesso de permissividade e desordem.

Na democracia, cada indivíduo busca o que deseja, sem considerar o bem coletivo. Esse regime é marcado pela busca de prazeres e pelo abandono da virtude, o que leva à falta de disciplina e ordem. Platão acredita que a liberdade irrestrita eventualmente se transforma em anarquia, criando um cenário propício para a próxima etapa de decadência.

Tirania: o governo da opressão

Finalmente, a liberdade excessiva da democracia culmina na tirania, onde a desordem e a falta de limites levam ao surgimento de um tirano. Freire explica que, segundo Platão, o tirano se aproveita do caos democrático para concentrar o poder em suas mãos, usando de violência e opressão para consolidar seu domínio.

A tirania representa o ponto mais baixo da degeneração política. O governante tirânico, distante da justiça e da verdade, é guiado por desejos e paixões descontroladas, pois não busca o bem da cidade, mas sim o próprio benefício, subjugando a população para satisfazer seus próprios interesses.

Reflexões sobre a natureza humana e a política

Ao final, Freire ressalta que a visão de Platão sobre os regimes políticos está profundamente enraizada na sua percepção da natureza humana, sendo que a decadência dos regimes reflete a corrupção moral e a busca egoísta por poder, honra ou riqueza. Platão alerta para o perigo de se ignorar a virtude e a verdade, sugerindo que somente um regime fundado na justiça e na busca pelo bem pode manter a harmonia social.


Guilherme Freire é um professor, conferencista e palestrante em filosofia brasileiro. Foi Secretário Adjunto da Secretaria Nacional da Juventude do Governo Federal, bem atuou como na Secretaria do Planejamento do Governo do Estado do Paraná.

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