Olavo de Carvalho – Analfabeto de pai e mãe

Olavo de Carvalho fala sobre o verdadeiro analfabeto de pai e mãe, aquele que foi privado do primeiro e mais fundamental instrumento de percepção e expressão humana, a língua, sendo incapaz de comunicar qualquer verdade real. Acesse aqui a descrição completa.


Classificação: 0 / 5. Votos: 0

Descrição

Neste trecho da aula de número 46 do Curso Online de Filosofia, o professor Olavo de Carvalho (1947-2022) fala sobre o verdadeiro analfabeto de pai e mãe, que não é um certo ex-presidiário, mas sim referindo-se àquele que foi privado do primeiro e mais fundamental instrumento de percepção e expressão humana, a língua.

A primeira disciplina: o idioma

Olavo inicia afirmando que a primeira disciplina, tanto do pensamento quanto da percepção, é próprio idioma, explicando que a linguagem tem várias camadas, e a primeira senso sua sonoridade: uma criança deve ser exposta à riqueza sonora da língua para, por meio dela, aprender a expressar sentimentos, desejos e percepções.

Para ilustrar, o filósofo brasileiro cita a tradição anglo-saxônica, onde praticamente todo escritor consagrado contribui com ao menos uma coleção de poemas para crianças, e lamenta que no Brasil isso é praticamente inexistente: raras são as mães que leem poesia para seus filhos. Assim, o analfabetismo é herdado: o “analfabeto de pai e mãe” é o sujeito que não recebeu essa formação básica em casa.

Jovens poetas sem o ouvido da língua

Olavo analisa então a geração de jovens poetas brasileiros que têm inventividade de imagens, mas carecem de senso auditivo da língua. A métrica que empregam é defeituosa, não por erro de contagem silábica, mas por falta de ouvido: a métrica poética é uma questão musical, não apenas aritmética.

É citado Bruno Tolentino como exemplo de poeta que dominava a sonoridade com perfeição. Em contrapartida, esses jovens, sem base literária infantil, saltam direto para formas complexas como Fernando Pessoa, sem terem aprendido o essencial.

A experiência pessoal do próprio Olavo

Com honestidade, Olavo conta sua própria experiência de descoberta tardia. Aos 30 anos, percebeu que era um ignorante completo no que se refere à linguagem real, pois sabia escrever sobre Platão e Aristóteles, mas não conseguia descrever seu próprio cachorro. Sua linguagem era abstrata, sem contato com o concreto.

Teve, então, que voltar e fazer redações primárias, como descrevendo o fim de semana, para recuperar a base perdida, experiência que o reconectou com a realidade e permitiu que sua linguagem ganhasse densidade existencial.

O conselho aos jovens escritores

Por fim, Olavo deixa um aviso aos jovens escritores e poetas: aceitar essa constatação pode parecer ofensivo, mas é algo que pode salvar suas vidas, pois, sem essa formação elementar, tudo o que você produzirá será uma combinação vazia de sons sem ancoragem na experiência.

Pior: quando chegar aos domínios da alta cultura e da argumentação filosófica, estará condenado a um formalismo sufocante, incapaz de comunicar qualquer verdade real. Para não virar mais um príncipe do vazio, como tantos, é preciso voltar à base: o idioma.

“Se você aceitar o que eu estou dizendo, você pode vir a ser um grande poeta. Fora disso, vai ser só mais um…” — Olavo de Carvalho


Salvo engano, esta aula foi ministrada pelo filósofo brasileiro em 20 de fevereiro de 2010 e foi intitulada “Aprendizado – mimetismo lingüístico brasileiro”. Já o clipe foi providenciado, curado e publicado originalmente pelo canal Daniel Mota em 30 de janeiro de 2023.

Conteúdo relacionado

Mais informações

Disclaimer: exceto quando explicitado na publicação, não temos nenhuma ligação com o conteúdo divulgado ou seu(s) criador(es). É também interessante notar que, apesar do nome do site, nem todo conteúdo publicado aqui pode ser rotulado como "de direita" ou de algo que o valha. Pode ser simplesmente algo interessante e/ou edificante que mereça ser arquivado ou pra realizar um simples registro histórico. Saiba mais sobre o Direita.TV aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *