Descrição
Neste trecho de sua palestra sobre A Consolação da Filosofia, de Severino Boécio, o saudoso professor e economista José Monir Nasser (1957 – 2013) faz uma reflexão profunda e provocadora sobre o conceito de felicidade humana, um tema não apenas filosófico mas também uma questão existencial que pode determinar a qualidade e o sentido da vida.
Partindo da extraordinária obra de Boécio e refletindo sobre o ciclo civilizatório, Monir questiona as bases da felicidade no mundo moderno e o impacto de uma vida sem propósito.
Felicidade e o sentido da vida
Monir começa discutindo como a felicidade está intimamente ligada ao propósito e ao sentido de vida. Sem essas referências, o indivíduo se perde em um mundo estático, onde tudo parece imóvel e sem capacidade de desenvolvimento. Para Monir, uma vida sem propósito é como um ciclo civilizatório desgastado, onde a humanidade parece estagnada e incapaz de agir de forma autêntica, descrevendo esta condição como um estado de paralisia, em que o ser humano deixa de ser um agente de transformação para se tornar apenas um espectador da sua própria existência.
Monir utiliza a ideia de “terra gasta” como uma metáfora para descrever a condição humana atual, um mundo esgotado de significado, onde as possibilidades de realização pessoal são constantemente suprimidas pela superficialidade e pela ausência de compromisso com algo maior. O resultado é uma sociedade que se acostuma com o vazio, aceitando a inércia como se fosse uma condição natural e inevitável.
O heroísmo e o modelo grego de felicidade
Em sua reflexão, Monir evoca o modelo de heroísmo grego como um contraste ao desânimo moderno, mencionando Aquiles e Heitor, personagens que sabiam de sua condenação, mas ainda assim escolheram o heroísmo e a luta. Para Monir, a grandeza desses heróis reside na aceitação do destino e na determinação de viver com honra, mesmo diante da morte iminente, o que sugere que a felicidade não é encontrada na segurança ou na sobrevivência, mas na realização plena de um propósito elevado, que justifique o sacrifício e a coragem.
Monir compara essa visão heroica com a postura do homem moderno, que evita o risco e a responsabilidade, preferindo um estilo de vida conformista e egocêntrico e justificar o fracasso pessoal com base em fatores externos, como a sociedade ou circunstâncias pessoais, em vez de buscar a própria superação. Nesse sentido, a ausência de uma busca heroica transforma a felicidade em algo impossível de alcançar, pois o indivíduo permanece preso a uma visão limitada e autocomplacente da vida.
A degradação da felicidade no existencialismo moderno
Para Monir, o existencialismo moderno é um reflexo da perda de sentido que permeia a vida humana por destacar o absurdo e o vazio da existência, o que acaba promovendo uma visão de felicidade que é frágil e desprovida de substância. Em vez de buscar o desenvolvimento e a realização interior, o existencialismo apresenta o ser humano como um ser desamparado e sem esperança, congelado em sua própria desesperança.
O professor observa que essa visão existencialista acaba levando à degradação da felicidade, pois transforma o ser humano em um “homem mínimo”, alguém incapaz de acreditar em sua própria capacidade de ação e transformação. Esse “homem mínimo” é o indivíduo que se coloca na posição de vítima do mundo, justificando sua inação e apatia em uma série de desculpas, enquanto abdica de sua responsabilidade e de sua possibilidade de crescimento pessoal.
De fato, Monir parecia ver o existencialismo como uma janela para entender as angústias e os vazios da modernidade, mas também como uma filosofia que, se não desafiada, pode agravar o desalento. Esse ponto de vista crítico do existencialismo, junto ao apelo de Monir para que busquemos sentido e transcendência, torna suas análises muito ricas.
Redescobrindo a felicidade verdadeira
O trecho conclui que a verdadeira felicidade está enraizada em uma vida de propósito, onde o indivíduo se vê como agente de sua própria história. A felicidade é alcançada não na passividade ou na busca por prazeres momentâneos, mas no enfrentamento dos desafios e na superação das adversidades. Desta forma, uma vida verdadeiramente feliz é aquela que se conecta com valores e princípios mais profundos, que resistem ao tempo e às mudanças da sociedade.
O professor Monir Nasser convida a rejeitar a visão de mundo existencialista e redescobrir um sentido maior para nossa existência, onde a felicidade é fruto de uma vida dedicada ao que é verdadeiro, belo e bom. Em última análise, temos aqui uma lembrancá que a felicidade não é uma condição dada, mas um ideal que exige esforço, sacrifício e, acima de tudo, uma disposição para viver plenamente.
P.S.: este vídeo foi clipado e publicado pelo canal Ewerton Kleber originalmente em 17 de julho de 2018.
Informações e conteúdo relacionado
Mais informações
- Postado originalmente em: 18 de maio de 2025
- Duração: 03:15
- Visualizações: 1
- Categorias: Curtos
- Canal: Ewerton Kleber
- Marcador(es): Filosofia, José Monir Nasser
- Publicado por: Direita Realista
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