Descrição
Neste trecho de sua incrível palestra sobre o igualmente incrível O Coração das Trevas, o saudoso e também incrível professor e economista José Monir Nasser (1957 – 2013) aborda as paixões humanas à luz da filosofia aristotélica e as conecta ao drama de Kurtz, o emblemático personagem deste romance de Joseph Conrad conhecido também como O Coração das Sombras.
Sua análise combina uma profunda reflexão filosófica com o impacto narrativo do romance, no qual inclusive o filme de grande sucesso Apocalypse Now foi baseado, traçando paralelos entre o desejo humano pelo poder e a tentação dos extremos.
As três almas segundo Aristóteles
Monir introduz o tema explicando as categorias da alma humana descritas por Aristóteles no tratado Da Alma:
- Alma Vegetativa: comum a plantas, animais e seres humanos, essa é a parte da alma responsável por funções automáticas, como alimentação, crescimento e reprodução. Opera de forma independente da vontade, como o exemplo dado: “Quando um coelho come alface, a alface vira coelho, nunca o contrário”. Essa metáfora ilustra a dinâmica natural e incontrolável dessa camada da alma.
- Alma Sensitiva: compartilhada por animais e humanos, é a sede das paixões e dos desejos. Apesar de ser parcialmente autônoma, é possível exercer controle sobre ela. A chave, segundo Aristóteles, é subordinar os impulsos dessa alma às orientações da alma intelectiva, usando a razão para guiar as paixões.
- Alma Intelectiva: exclusiva dos seres humanos, essa alma é responsável pela compreensão do mundo como ele realmente é. Aristóteles sugere que o sucesso da vida humana depende de uma hierarquia em que a alma intelectiva domina e organiza a sensitiva.
As paixões e o desejo pelo poder
Monir enfatiza que, no fundo de muitas paixões, reside o desejo de poder, observando como o poder, embora desejável, carrega o risco de corromper e fascinar. O exemplo dado de Rafael Greca, considerado “sexy” por algumas mulheres devido à sua posição de autoridade, demonstra o impacto transformador do poder sobre a percepção.
Esse desejo pelo poder, contudo, é legítimo até certo ponto. O problema, como Monir pontua, ocorre quando se perde o limite que separa o desejo saudável da obsessão destrutiva. Ele usa justamente Kurtz, de O Coração das Trevas, como exemplo de quem sucumbiu a esse abismo.
A ambivalência humana e a escolha entre luz e trevas
Monir traz uma poderosa reflexão: todos nós somos potencialmente Kurtz. Ele descreve a condição humana como uma “ambivalência existencial”, situada entre um mistério luminoso acima (a aspiração ao sublime) e um abismo demoníaco abaixo (a tentação do poder destrutivo).
Kurtz, em sua trajetória, associa-se ao “mistério demoníaco”, tornando-se um monstro consumido pelas trevas. Em contraste, Marlow, o narrador de O Coração das Trevas, reconhece sua tentação, mas consegue resistir, preservando sua integridade, o que acaba sendo a diferença fundamental é o que separa os que caem no abismo daqueles que se mantêm na luz.
Conclusão: o aprendizado de Aristóteles e Conrad
A análise de Monir Nasser nos conduz a uma reflexão atemporal: a luta entre razão e paixão, luz e escuridão, é uma batalha interna que todos enfrentamos. Para Aristóteles, o caminho para o equilíbrio está na subordinação das paixões à razão. Para Joseph Conrad, a tragédia de Kurtz é um alerta sobre o que acontece quando cedemos ao lado mais sombrio de nossa natureza.
P.S.: este vídeo foi clipado e publicado pelo canal Ewerton Kleber originalmente em 15 de junho de 2018.
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Mais informações
- Duração: 05:35
- Visualizações: 6
- Categorias: Curtos
- Canal: Ewerton Kleber
- Marcador(es): Aristóteles, Filosofia, José Monir Nasser
- Publicado por: Equipe Direita Realista
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