Trazemos aqui a palestra completa ministrada em Curitiba (PR) pelo saudoso professor e economista José Monir Nasser (1957 – 2013) sobre A Morte de Virgílio, com foco nos aspectos culturais desta obra monumental do autor austríaco Hermann Broch, considerada um dos grandes romances do século XX — uma narrativa densa, filosófica e profundamente introspectiva que acompanha os últimos dias de vida do poeta romano Virgílio, explorando questões existenciais, estéticas e espirituais.
Publicado originalmente em 1945, A Morte de Virgílio (alemão: Der Tod des Vergil) recria as últimas horas de vida do poeta romano Virgílio no porto de Brundísio (Brindisi), onde ele acompanhou o imperador Augusto. Virgílio enfrenta a frustração de sua decisão de queimar sua obra A Eneida e sua reconciliação final com seu destino. As percepções agudas de Virgílio enquanto morre evocam sua vida e a era em que vive. O poeta se encontra no intervalo entre a vida e a morte, assim como sua cultura está entre os períodos pagão e cristão. Ao refletir, Virgílio reconhece que a história está em um ponto de inflexão e que pode ter falsificado a realidade em sua tentativa de criar beleza.
A complexidade da narrativa é acentuada pelas profundas meditações internas de Virgílio, que revelam suas angústias pessoais e dúvidas sobre o papel do poeta na sociedade e na história. Há também um interessante aspecto de crítica à cultura romana e sua relação com o poder, especialmente na figura de Augusto, que aparece no romance. Através de uma prosa altamente lírica e muitas vezes abstrata, Broch constrói uma reflexão filosófica que transcende o contexto histórico, lidando com temas universais como a mortalidade, a imortalidade da arte, e o conflito entre vida prática e contemplativa.
Para além disto, alguns estudiosos interpretaram o livro como uma obra antinazista. O medo de Virgílio de que sua escrita apenas sirva para encorajar a repressão autocrática é visto como um reflexo direto do interesse do Partido Nazista e de sua inspiração nas fontes clássicas.
A Morte de Virgílio teve um impacto e legado substancial na cultura. Erich Heller descreve-a como uma obra-prima problematizada pela crescente aversão de Broch à literatura, refletida na decisão do poeta fictício de destruir sua obra-prima A Eneida, não por imperfeições, mas por ser apenas poesia e não ‘conhecimento’. Harry Levin elogia o romance por criar uma visão profunda da civilização e das preocupações universais a partir da perspectiva de um poeta moribundo. Além disso, a obra inspirou uma série de composições do compositor francês Jean Barraqué.
Por fim, como é de praxe nesta série de palestras do professor Nasser, não é preciso ler a obra para entender e beneficiar-se da exposição, embora seja obviamente desejável. De toda forma, suas duas partes, que juntas têm quase 4 horas de duração, encontram-se a seguir:
Parte 1
Parte 2
Estes vídeos foram curados e providenciados pelo canal Mental Food, onde foram publicados originalmente em 28 de junho de 2018.
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Mais informações
- Duração: 3:48:02
- Visualizações: 7
- Categorias: Palestras
- Canal: Mental Food
- Marcador(es): Cultura, José Monir Nasser, Literatura
- Publicado por: Equipe Direita Realista
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