José Monir Nasser sobre o declínio nas obras de arte

O professor José Monir Nasser faz importantes e interessantes considerações sobre o declínio nas obras de arte, algo que, independente da superficialidade com a qual se trata o assunto, é inegável nas últimas décadas. Acesse aqui a descrição completa.


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Descrição

Neste trecho de uma palestra ministrada sobre o livro Esperando Godot, de Samuel Beckett, o saudoso professor e economista José Monir Nasser (1957 – 2013) faz importantes e interessantes considerações sobre o declínio nas obras de arte, algo que, independente da superficialidade com a qual se trata o assunto, é inegável nas últimas décadas.

No meio de sua exposição, Nasser vai observando como, ao longo dos séculos, houve uma transição temática que culminou em produções modernas cada vez mais voltadas para a subjetividade e, muitas vezes, para o banal. Sua análise percorre a história da arte, desde suas origens transcendentes até o minimalismo intimista e, às vezes, animalesco, da contemporaneidade.

Da transcendência à imanência: a mudança na temática das obras

Monir Nasser começa refletindo sobre como, nos primeiros séculos, a arte esteve fortemente ligada ao transcendente, especialmente em temas religiosos e espirituais. Obras medievais, renascentistas e barrocas, com suas iluminuras e afrescos, retratavam histórias bíblicas e santos, convidando o espectador a olhar para além da realidade material.

“A pintura clássica trazia uma temática associada a assuntos maiores que o mundo imediato, buscando algo de uma natureza transcendental.”

Com o Renascimento, essa orientação espiritual começou a dar lugar a temas históricos e, posteriormente, profanos, marcando o início da aproximação da arte com a realidade humana e social. Ao longo dos séculos, essa transformação evoluiu até temas cada vez mais ligados ao realismo, uma arte que buscava representar fielmente o indivíduo e sua vida cotidiana.

O avanço do individualismo e o expressionismo pessoal

A análise avança para o período em que a arte se aproxima da expressão do indivíduo e de suas emoções, especialmente com a chegada do impressionismo e, posteriormente, do expressionismo, destacando que, pela primeira vez, o artista usa a obra para expressar seus próprios sentimentos e angústias pessoais, distanciando-se das grandes narrativas coletivas.

“Os expressionistas como Van Gogh e Gauguin começam a trazer para a pintura suas próprias mazelas, uma aproximação com o que chamamos de expressionismo pessoal.

Esse movimento é significativo para o assunto, pois introduz na arte o conceito de subjetividade e torna a obra um reflexo direto do estado de espírito do artista. No entanto, segundo Monir, esse mergulho na própria interioridade, que no início foi potente e expressivo, ao longo do tempo tornou-se excessivamente intimista e autocentrado.

A arte moderna e o minimalismo existencial

A partir do século XX, a busca por uma representação da existência pessoal e subjetiva culmina no que Monir define como “o mínimo possível de expressão”, argumentando que, após explorar todas as camadas da experiência humana, a arte moderna começa a retratar aspectos cada vez mais triviais, como questões fisiológicas e existenciais aparentemente banais

Para exemplificar o quanto a arte contemporânea reduziu seus temas ao biológico e ao animalesco, distanciando-se das aspirações maiores que guiavam a arte clássica, Monir menciona uma famosa instalação de um artista italiano, uma “fábrica de cocô”, o que deve ter muito apelo pra petistas e maconheiros em geral, claro.

“Hoje você tem uma arte que retrata o mais imanente, o fisiológico, uma realidade animalesca que se aproxima do mínimo possível de significado.”

Nesse contexto, a arte deixa de oferecer uma visão expansiva e inspiradora do mundo, tornando-se um reflexo das preocupações individuais do artista, muitas vezes desprovidas de uma mensagem universal.

A banalização e o efêmero na arte contemporânea

Monir critica a tendência da arte contemporânea de recorrer a instalações e experiências sensoriais que não deixaria uma marca duradoura na mente do espectador., afirmando que por exemplo, obras que simulam sensações temporárias, como abrir uma geladeira e sentir o ar frio, experiências que são quase impossíveis de rememorar com profundidade.

“A arte moderna parece uma Disneylândia, onde você se depara com uma máquina jogando bolas de tênis ou uma geladeira que abre para sentir o frio.”

Essa abordagem efêmera, segundo Monir, reflete uma falta de profundidade, onde a experiência artística é fugaz e não deixa um impacto real na memória ou no entendimento do espectador.

Da elevação à trivialidade

Para José Monir Nasser, o declínio nas obras de arte reflete a perda da dimensão transcendental que marcou a arte dos séculos passados. Ao centrar-se na interioridade e, eventualmente, em temas fisiológicos e efêmeros, a arte contemporânea se distanciou de sua capacidade de inspirar, ensinar e elevar o espírito, de acordo com o que pudemos absorver deste trecho.

Esta resenha é uma reflexão sobre o propósito da expressão artística e sobre o que ela perdeu ao longo dos séculos. De uma ponte para o sublime, a arte, em muitas de suas formas atuais, tornou-se um espelho dos impulsos e trivialidades da vida cotidiana, privando o espectador de um sentido maior e duradouro.


P.S.: este clipe foi publicado originalmente ao dia 12 de fevereiro de 2019 pelo canal Ewerton Kleber.

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