Descrição
Neste trecho da sua magistral palestra a respeito de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, o saudoso professor e economista José Monir Nasser (1957 – 2013) apresenta um conceito central na literatura: a personagem tensional.
Segundo o exposto, a narrativa literária, especialmente a moderna, exige personagens que vivam em estado de tensão, prisioneiros de contradições fundamentais que impulsionam o enredo e geram envolvimento do leitor.
O que define uma personagem tensional?
Monir Nasser sugere que, diferentemente de personagens heroicas ou figuras com enorme poder e domínio sobre a realidade, a personagem tensional é aquela que está constantemente dividida entre desejos, circunstâncias e limitações. Não é necessariamente ambiciosa ou poderosa, mas sim alguém cuja existência é marcada por conflitos internos e externos.
No contexto de Madame Bovary, por exemplo, Emma Bovary não é uma personagem que detém grande poder ou riqueza, mas sua insatisfação, frustrações e ilusões a colocam em um estado contínuo de tensão que define sua trajetória.
A relação entre poder e tensão na literatura
Um ponto interessante levantado na palestra é que personagens que possuem muito poder ou vastos recursos geralmente não são tensionais, visto que poder absoluto tende a eliminar as contradições e dilemas que tornam uma história envolvente.
Monir ilustra isso com figuras que, apesar de deterem poder ou influência, não possuem grandes aspirações ou dilemas internos, sendo indivíduos que não têm interesse na transformação de sua própria realidade, e, por isso, não protagonizam histórias literárias marcantes.
Por outro lado, as personagens mais memoráveis da literatura são aquelas que vivem em contradição: desejam algo que não podem ter, lutam contra circunstâncias inescapáveis ou enfrentam dilemas morais profundos. Esse tipo de tensão é essencial para criar engajamento narrativo.
A necessidade de conflito na ficção
Outro ponto destacado é que a literatura — e até mesmo o cinema — precisa desse tipo de personagem, pois a ausência de tensão resulta em histórias sem impacto, pois os personagens não enfrentam desafios reais.
Isso explica por que muitas das grandes obras da literatura e do cinema giram em torno de figuras em situações-limite, pressionadas por escolhas difíceis ou por um destino inescapável, sendo a tensão o elemento que mantém o leitor ou espectador conectado à trama.
A aplicação desse conceito na realidade
Embora Monir fale sobre literatura, suas reflexões também podem ser aplicadas à vida real. Muitas vezes, as pessoas mais poderosas ou influentes não são aquelas que vivem grandes conflitos internos. Por outro lado, aqueles que enfrentam dilemas morais, sociais ou existenciais são os que mais despertam empatia e interesse.
O conceito de personagem tensional ajuda a entender não apenas como se constrói uma narrativa impactante, mas também como enxergamos o drama humano dentro e fora da ficção.
P.S.: este clipe foi publicado originalmente em 9 de agosto de 2018 pelo canal Ewerton Kleber.
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Mais informações
- Duração: 11:00
- Visualizações: 2
- Categorias: Curtos
- Canal: Ewerton Kleber
- Marcador(es): Arte, Cultura, José Monir Nasser, Literatura
- Publicado por: Equipe Direita Realista
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