Descrição
Neste vídeo originalmente publicado a 8 de junho de 2020, Guilherme Freire faz uma interessante reflexão a respeito d influência de Jean-Jacques Rousseau na filosofia da educação e seus erros, expondo a necessidade de revisitar os fundamentos educacionais de nossa sociedade.
A filosofia da educação de Rousseau é amplamente reconhecida por sua obra Emílio, ou Da Educação, um tratado que mescla filosofia e romance para discutir os princípios do ensino e sua aplicação prática. Contudo, segundo o exposto no vídeo, essa abordagem contém erros fundamentais que reverberam até os dias de hoje, especialmente no afastamento da educação clássica e na ideologização do ensino.
O texto a seguir foi feito a partir da exposição de Freire e analisa suas principais críticas à filosofia educacional de Rousseau, explorando suas ideias sobre o estado natural do ser humano, a bondade inata, a formação moral e a centralidade do Estado na educação.
Antecedentes do pensamento de Rousseau: um olhar sobre suas influências e rupturas
Jean-Jacques Rousseau foi um pensador profundamente influenciado por seu contexto histórico e pelas ideias em circulação na França do século XVIII. Para compreender melhor sua filosofia da educação, é necessário traçar algumas das influências e rupturas que moldaram seu pensamento.
O bom selvagem e a crítica ao racionalismo iluminista
Rousseau é frequentemente associado à ideia do “bom selvagem”, uma noção que emergiu no imaginário europeu do século XVIII, influenciada pelo contato com povos indígenas da América. Embora essa concepção seja simplificada, captura a crítica que Rousseau fazia à civilização europeia de sua época, que via como corrupta e artificial, acreditando que, no estado de natureza, o homem era puro e virtuoso, mas a introdução da propriedade privada e das convenções sociais gerou desigualdade e egoísmo.
Também, diferente de outros iluministas, como Voltaire e Diderot, Rousseau via limites claros para a razão e exaltava os sentimentos, especialmente a compaixão, como fundamentos da moralidade. Essa valorização do sentimento sobre a razão marca uma ruptura significativa com o racionalismo predominante no movimento iluminista.
O Romantismo e a base para a mentalidade revolucionária
A obra de Rousseau forneceu os alicerces para dois movimentos importantes: o Romantismo e a mentalidade revolucionária. No Romantismo, sua ênfase nos sentimentos e na pureza natural do indivíduo contrastava com a visão iluminista de progresso baseado na razão. Já na política, suas ideias sobre a “vontade geral” influenciaram profundamente a Revolução Francesa, muitas vezes servindo de justificativa para ações autoritárias em nome do “bem coletivo”.
A oposição à educação jesuítica e o naturalismo pedagógico
Rousseau também se destacou por sua crítica à educação clássica, representada pelos jesuítas, que priorizavam o ensino estruturado, com forte ênfase nos clássicos e na formação das virtudes, Rousseau propôs uma abordagem mais naturalista, defendendo que as crianças fossem deixadas livres para explorar o mundo, confiando em sua bondade inata e em sua capacidade de autodesenvolvimento.
Essa visão, no entanto, ignorava o pecado original, que causou a corrupção intrínseca da natureza humana, e a necessidade de formação moral para combater as inclinações negativas do ser humano. A crítica de Rousseau à educação de conteúdo, à alfabetização precoce e ao ensino religioso revela uma rejeição às bases da pedagogia clássica.
Rousseau e o mito do bom selvagem
Voltando a uma das ideias mais emblemáticas de Rousseau, a noção do “bom selvagem”, esta postula que o homem nasce essencialmente bom, sendo a civilização a principal responsável pela sua corrupção moral. Embora não tenha uma base metafísica clara, como vimos acima, Rousseau desenvolve essa teoria como uma crítica à sociedade de sua época, vista como artificial e corrupta.
Entretanto, Freire destaca que essa visão reducionista subestima as inclinações naturais do ser humano tanto para o bem quanto para o mal. Na filosofia clássica e na tradição cristã, a formação moral é entendida como um processo de superação das más inclinações por meio do cultivo de virtudes, algo que Rousseau ignora em favor de uma crença em uma bondade inata que se manifesta sem necessidade de orientação externa tirada exatamente sabe-se lá de onde, mas não seria nada espantoso se me disserem que foi de alguma gnose.
O papel da educação e a crítica à razão
Em Emílio, Rousseau propõe uma educação que privilegia a experiência sensorial e emocional, relegando o aprendizado intelectual e o cultivo da razão a um papel secundário. Ainda neste contexto, a moral se basearia mais em sentimentos de compaixão do que na busca pela virtude e pela verdade, rompendo com a tradição clássica e cristã que enfatiza o papel da razão na formação moral e ética.
Freire contudo aponta que essa abordagem negligencia o papel dos conteúdos intelectuais e dos clássicos na educação, resultando em uma geração que carece de referências sólidas e capacidade crítica. Essa visão sentimentalista da educação contribui para um afastamento dos fundamentos filosóficos e culturais que sustentam uma sociedade livre e bem ordenada.
O estado como educador
Uma das críticas mais contundentes de Freire a Rousseau é a centralidade do estado na educação, o qual, em nome de uma “vontade geral”, assume o papel principal na formação dos cidadãos, moldando-os de acordo com uma visão coletiva que muitas vezes ignora as individualidades e a autonomia familiar.
Freire relaciona essa ideia ao autoritarismo presente em regimes revolucionários e socialistas que se inspiraram em Rousseau, onde uma elite iluminada impõe sua visão de mundo à sociedade, suprimindo liberdades individuais em nome de ideais coletivos.
Em outras palavras, agora sabemos de qual mente deformada saiu uma das ideias mais infelizes, desgraçadas, grotescas, ridículas e estapafúrdias da história do universo: envolver parasitas na educação das pessoas normais.
Rousseau e a crise da educação moderna
Freire argumenta que muitos dos problemas da educação contemporânea têm raízes na filosofia de Rousseau. O abandono da tradição clássica, o sentimentalismo exacerbado e a ênfase no coletivismo levaram à decadência do sistema educacional. São citados eemplos como o declínio na qualidade da escrita e do pensamento crítico, resultado do distanciamento das virtudes e do foco em conteúdos superficiais.
A influência de Rousseau, segundo Freire, é visível não apenas na educação sentimentalista moderna, mas também em pedagogias posteriores, como a de Paulo Freire e John Dewey, que perpetuam muitos dos problemas identificados na obra do filósofo iluminista.
Rupturas internas e incoerências práticas
Apesar de seu discurso idealista, a vida pessoal de Rousseau apresentava contradições que Freire considera fundamentais para entender suas ideias. Ele entregou os próprios filhos para adoção e viveu em conflito constante com as práticas que defendia. Essas incoerências lançam dúvidas sobre a viabilidade prática de sua filosofia educacional e sua visão utópica da natureza humana.
Com esse panorama, vemos que a filosofia de Rousseau é ao mesmo tempo um produto e uma reação ao iluminismo, combinando influências culturais e intelectuais de sua época com críticas profundas às instituições e convenções estabelecidas.
Uma alternativa: a educação clássica e os jesuítas
Freire destaca que a educação clássica, promovida por figuras como São Tomás More e os jesuítas, oferece uma alternativa sólida à filosofia de Rousseau. Trata-se de uma abordagem valoriza o cultivo da razão, das virtudes e do conhecimento universal, promovendo uma formação integral que respeita a natureza humana em sua totalidade, incluindo suas limitações e potencialidades.
Desgraçadamente, a filosofia de Rousseau continua a influenciar profundamente o sistema educacional moderno, mas suas falhas apontadas por Guilherme Freire mostram a necessidade de revisitar as bases fundamentais da educação. De acordo com o exposto no vídeo, um retorno às raízes da tradição clássica, com foco no cultivo das virtudes e no resgate da razão, poderia oferecer uma saída para a crise educacional contemporânea.
Guilherme Freire é um professor, mestre, palestrante e conferencista em filosofia. Dentre outras ocupações, além da publicação de conteúdos interessantes como esse e os cursos que atualmente ministra, já atuou nas esferas federal e estadual da educação e planejamento.
Conteúdo relacionado
Mais informações
- Duração: 20:20
- Visualizações: 2
- Categorias: Comentários
- Canal: Guilherme Freire
- Marcador(es): Educação, Filosofia, Guilherme Freire, Iluminismo, Jean-Jacques Rousseau
- Publicado por: Equipe Direita Realista
Disclaimer: exceto quando explicitado na publicação, não temos nenhuma ligação com o conteúdo divulgado ou seu(s) criador(es). É também interessante notar que, apesar do nome do site, nem todo conteúdo publicado aqui pode ser rotulado como "de direita" ou de algo que o valha. Pode ser simplesmente algo interessante e/ou edificante que mereça ser arquivado ou pra realizar um simples registro histórico. Saiba mais sobre o Direita.TV aqui.