Sensação não é conhecimento: uma reflexão filosófica com José Monir Nasser

O professor José Monir Nasser faz uma reflexão filosófica onde a ideia central é que sensação não é conhecimento verdadeiro, que exige mais do que sentir — é preciso investigar, questionar e entender as causas subjacentes dos fenômenos. Acesse aqui a descrição completa.


Classificação: 0 / 5. Votos: 0

Descrição

Você já parou para pensar na diferença entre sentir algo e realmente entender o que está acontecendo? A tese de que “sensação não é conhecimento” é um dos pilares da filosofia que questiona o papel das nossas experiências sensoriais no processo de conhecimento. Nessa reflexão, o saudoso professor e economista José Monir Nasser (1957 – 2013) explora o tema, neste trecho de sua interessantíssima e edificante palestra sobre Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski.

A ideia central é bem rica, abordando como as sensações, apesar de serem experiências imediatas e vividas, não oferecem entendimento profundo do que se passa no mundo. Nasser faz uma distinção clara entre a sensação, que é quantitativa e subjetiva, e o conhecimento, que requer investigação e entendimento das causas por trás dos fenômenos.

Sensação vs. Conhecimento: O que isso significa?

Quando você sente frio, isso indica que está frio, certo? Mas será que essa sensação, por si só, oferece qualquer entendimento sobre o que causa o frio? Segundo Nasser, não. Sentir frio não equivale a conhecer os processos meteorológicos, físicos ou biológicos por trás dessa sensação. A experiência sensorial é apenas uma resposta subjetiva, e muitas vezes quantitativa, ao ambiente.

Esta ideia é ilustrada com uma metáfora simples: comer uma grande quantidade de um prato pode transformar o prazer da refeição em dor, dependendo apenas da quantidade. As sensações, então, são limitadas por sua natureza quantitativa, enquanto o conhecimento requer uma análise qualitativa mais profunda. Isso significa que, para realmente entender o mundo, precisamos ir além das nossas percepções sensoriais e buscar o “porquê” por trás delas.

A armadilha das sensações na vida moderna

No mundo atual, é fácil ver como a busca por sensações se tornou um objetivo em si. A ênfase na “qualidade de vida” muitas vezes se traduz em um culto ao corpo e ao bem-estar físico. Nasser observa que esse foco exacerbado nas sensações corporais, como o prazer e a dor, pode ser uma forma degenerativa de viver, pois limita nossa compreensão do que realmente significa ser humano.

Segundo o professor, viver apenas com base em sensações nos reduz a uma existência quantitativa, onde o prazer é medido em quantidades, seja de comida, conforto ou experiências físicas. No entanto, isso é insuficiente. Para Nasser, o conhecimento genuíno vem da capacidade de entender a natureza qualitativa dos fenômenos — por exemplo, entender as causas do frio em vez de apenas senti-lo.

Essa visão crítica da vida moderna também pode ser vista na forma como a sociedade valoriza a aparência e o prazer imediato. A obsessão com academias, dietas e rotinas que prometem sensações imediatas de bem-estar é um reflexo dessa busca desenfreada pelo prazer sensorial. Contudo, como ele aponta, essa é uma forma limitada e desumana de viver, pois não considera os aspectos mais profundos e qualitativos da vida.

É claro que o papo aqui é usar as coisas de forma ordenada. Jamais vamos demonizar academia e exercícios físicos, benéficos para uma série de aspectos da vida humana, porém tem gente que perde a noção e fica até ridículo, além de cair nessa armadilha ilustrada por Nasser.

A mente pode enganar

Outro ponto fundamental abordado é o perigo de confiar apenas nas sensações e na mente para construir nossa visão de mundo, argumentando que a mente humana é capaz de criar arranjos sofisticados de ideias que, embora coerentes internamente, podem estar completamente desvinculados da realidade. Um exemplo simples é uma história inventada para entreter uma criança: pode haver coerência e lógica interna, mas isso não faz com que a história seja verdadeira.

Essa capacidade de nossa mente de criar narrativas coerentes, mas ilusórias, é o que torna a vida baseada puramente nas sensações tão enganosa. Quando confiamos apenas na nossa percepção e na nossa capacidade de organizar essas percepções em uma história, podemos cair na armadilha de acreditar que compreendemos algo profundamente, quando na verdade só estamos arranjando sensações de maneira lógica.

Conclusão: sensação não é suficiente para conhecer

A tese de José Monir Nasser desafia a ir além da superficialidade das sensações e buscar um entendimento mais profundo da realidade. Pelo que dá pra entender, o conhecimento verdadeiro exige mais do que sentir — é preciso investigar, questionar e entender as causas subjacentes dos fenômenos. Em um mundo cada vez mais focado no imediatismo das sensações, sua mensagem é um lembrete importante de que o conhecimento real demanda um esforço consciente e racional.

P.S.: este vídeo foi providenciado pelo canal Ewerton Kleber e foi publicado originalmente em 12 de junho de 2018.

Conteúdo relacionado

Mais informações

Disclaimer: exceto quando explicitado na publicação, não temos nenhuma ligação com o conteúdo divulgado ou seu(s) criador(es). É também interessante notar que, apesar do nome do site, nem todo conteúdo publicado aqui pode ser rotulado como "de direita" ou de algo que o valha. Pode ser simplesmente algo interessante e/ou edificante que mereça ser arquivado ou pra realizar um simples registro histórico. Saiba mais sobre o Direita.TV aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *