Para evitar confusões, vou começar deixando claro que o título deste artigo é realmente meio bait, pois não se trata de uma defesa intransigente do aspecto comercial do Natal, muito menos em detrimento ao verdadeiro significado desta data. Em outras palavras, não quero criar alguma espécie de dicotomia onde só se pode ter um ou outro, nem negar que o sentido espiritual ou místico das celebrações do Nascimento de Cristo é infinitamente mais importante.
Vale a pena sempre frisar que o mal não está no lazer ou bens materiais em si, mas no mau uso que se faz dessas coisas. A partir do momento em que você medita sobre o que é a vinda do Deus Menino e busca ter um santo Natal (o que inclui, mas não se limita a participar da Missa e se abster de excessos), não está fazendo nada de errado. Então, pode se divertir participando de grandes encontros familiares, degustando uma boa ceia, trocando presentes e apreciando belas decorações festivas. Claro, tudo com temperança, mas isso já está implícito no santo Natal.
Outra coisa que acho que pode ser mais grave, é que essa buzinação constante contra o tal aspecto comercial do Natal – seja por parte de ignorantes com boas intenções ou picaretas com má fé – é que muitos destes elementos guardam simbologias ricas e cristãs, e isso inclui a Árvore de Natal, Papai Noel e a troca de presentes. Simplesmente descartá-los, em vez de aproveitá-los, ainda por causa de palpite de palpiteiro metido a entendido, pode ser um grande desserviço. É justamente nesse ponto que a crítica leviana e rasa ao “Natal comercial” falha, pois descarta tradições que, se bem empregadas, podem ser poderosos instrumentos de evangelização.
Muitos destes elementos natalinos tão criticados, longe de serem apenas enfeites vazios, possuem significados profundos, desde suas origens, que podem enriquecer a experiência espiritual da data. A Árvore de Natal, por exemplo, é um símbolo de ordem e eternidade, tendo raízes que remontam às guildas na Levônia e à história de São Bonifácio, que derrubou uma árvore pagã. O presépio celebra o nascimento de Cristo, enquanto a estrela guia remete à jornada dos Reis Magos em direção ao Salvador. Papai Noel, por sua vez, é inspirado em São Nicolau, cuja generosidade e fé cristã são exemplares, até mesmo na sua defesa do dogma no Concílio de Niceia. Até itens como o ouro, incenso e óleo carregam simbolismos profundos de realeza, ascensão e redenção. Cada sino que toca anuncia a Encarnação do Verbo, e as luzes nos recordam a Verdade que ilumina o mundo. Ao invés de descartar essas tradições, deveríamos resgatá-las, conhecer suas verdadeiras origens e usá-las como instrumentos de evangelização.
Tive essa reflexão ao andar pela cidade na Véspera de Natal vendo pouquíssimas decorações festivas, no máximo umas luzinhas discretas e pequenas árvores sem muito destaque ou capricho. No entanto, a cidade estava cheia, com muitos estabelecimentos funcionando normalmente e os shoppings cheios (apesar das dificuldades impostas pelo governo do amor). Ou seja, nos dias que antecedem 25 de dezembro, a propensão maior ao consumo continua firme e forte, só que sem a agradável atmosfera que tradicionalmente temos em torno dessa data. E nem quero emporcalhar o assunto com as imundícies de depravados acham que podem adequar Cristo a qualquer estilo de vida escandaloso que queiram cultuar. Estas também estão presentes.
Isso pode ter sido causado — e mesmo se eu estiver correto não significa que esta é a única causa — pela buzinação constante contra o Natal, com essas críticas estapafúrdias e rasas, acusando a data de paganismo, materialismo, capitalismo e outras besteiras. Tipo, falaram tanto que esses símbolos não têm importância (ou são más, de acordo com os neuróticos, senão gnósticos), que realmente afetou as pessoas em algum nível, que estão de fato os deixando de lado. Só que não adiantou nada em prol do verdadeiro sentido do Natal. No fim das contas, parece então que descartamos o “Natal comercial” e ficamos apenas com o “comercial”. As pessoas continuam ignorando a sacralidade destes tempos e se afundando em esbórnias e cultivando um apego desordenado a bens materiais do mesmo jeito, só que sem as luzinhas, árvores, musiquinhas etc.
E insisto que mesmo que para muitos essas tradições não passem de meras decorações, podem na verdade enriquecer estas festas que recordam o Natal. Em certa ocasião, o Papa Francisco afirmou que “o presépio e a árvore tocam o coração de todos, inclusive de quem não crê, porque fala de fraternidade, de intimidade e de amizade, chamando os homens do nosso tempo a redescobrirem a beleza da simplicidade, da compartilha e da solidariedade”. Sobre a árvore, o Santo Padre também explicou que “aponta para o alto, nos estimulando a buscarmos os dons mais altos, elevando-nos acima das névoas que ofuscam, para experimentar quão belo e alegre é mergulhar na luz de Cristo”.
Ninguém em sã consciência pode dizer que Francisco é a favor do consumismo desenfreado. Inclusive, ele criticou o “Natal comercial”, o que chamou de “Natal falso”, mas de uma maneira muito assertiva e equilibrada, exortando-nos a “envolver pela proximidade de Deus, esta proximidade que é compassiva, terna; envolvida pela atmosfera natalícia que a arte, a música, os cantos e as tradições fazem chegar ao coração”. Creio que isso implica também em não descartar elementos que “apresentam-nos a atmosfera típica de Natal que faz parte do patrimônio das nossas comunidades: uma atmosfera de ternura, partilha e intimidade familiar”.
Concluo essa reflexão dizendo que não somos especialistas no assunto e não gozamos de infabilidade, mas dá pra dizer que aproveitar estas tradições natalinas — desde que com temperança e sem ignorar que a nada deve se dar mais valor do que a Cristo — não faz mal. Além disto, até mesmo os símbolos periféricos de Natal contém potencial pra tocar o coração até de quem não crê. Examiná-los com sinceridade pode nos ajudar não apenas a entender estes elementos em si, mas também a compreender como o simbolismo funciona.
E tenha um Feliz Natal, pois ainda é Natal!
Referências
- Guilherme Freire – A Origem dos Símbolos do Natal
- A história de São Nicolau, o verdadeiro Papai Noel
- São Bonifácio e a Árvore de Natal
- Árvore de Natal – História Católica
- Guilherme Freire – O verdadeiro significado do Natal
- Guilherme Freire explica os símbolos do Presépio
- Jonathan Pageau – Symbolism of the Christmas Tree
- Papa Francisco fala do significado da árvore de Natal
- Sacerdote explica qual é o sentido cristão da árvore de Natal
- Papa Francisco: Presépio e árvore de Natal também tocam coração de quem não crê
- Vaticano acende as luzes do Presépio e da Árvore de Natal na Praça de São Pedro
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- Autor e/ou editor: Direita Realista
- Marcador(es): Natal, Simbologia
- Publicado por: Equipe Direita Realista
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