Descrição
Neste trecho da aula de número 410 de seu Curso Online de Filosofia, Olavo de Carvalho (1947-2022) fala sobre a verdade universal e o erro dos gnósticos, explicitando a relação disso com o subjetivismo, algo que impregnou a grande maioria dos pensadores modernos.
Para o brasileiro, essa tendência gnóstica é a raiz do subjetivismo moderno, presente em filósofos desde Descartes até Marx, e que gera uma ilusão de que o ser humano pode controlar e compreender a totalidade da realidade através do intelecto.
A verdade universal e o limite do conhecimento humano
Olavo inicia abordando a ideia de que a verdade universal existe como uma unidade que abarca todas as coisas, mas que essa totalidade não pode ser completamente conhecida pelo indivíduo, e explica que o ser humano pode apenas pressentir essa verdade, pois ela transcende nossa capacidade de compreensão e controle.
“A verdade universal não é algo que o indivíduo humano possa dominar ou compreender por completo; é algo que nos transcende e que só podemos pressentir.”
Esse pressentimento, segundo Olavo, revela a existência de algo que unifica tudo o que existe. No entanto, tentar entender essa verdade de maneira absoluta seria um erro, pois a verdade não se submete ao controle humano.
Fé como efeito da verdade, não sua origem
Em seguida, Olavo esclarece que essa percepção da verdade universal não tem a ver com a fé, mas, ao contrário, a fé é um efeito dessa verdade. De acordo com a Bíblia, a fé é um dom do Espírito Santo, e não algo que o ser humano pode criar ou manipular.
No trecho, o filósofo observa que a verdade universal é uma força que dirige e orienta o ser humano, e que o indivíduo não pode dominar ou manipular esse processo. Ele critica o desejo moderno de controlar a verdade e ressalta que, ao tentar fazer isso, o homem se fecha à inspiração do Espírito Santo. Essa relação com a verdade exigiria, portanto, uma postura de entrega e receptividade, o oposto da tentativa gnóstica de manipulação.
O erro gnóstico e o subjetivismo moderno
Olavo argumenta que a visão gnóstica é baseada em uma tendência de “domínio do conhecimento,” que se manifesta no subjetivismo moderno, uma tradição que começou com Descartes e continuou até filósofos materialistas como Karl Marx. Essa tradição vê o ser humano como o centro do conhecimento e tenta explicar tudo a partir do sujeito ou da mente.
“O subjetivismo quer explicar tudo pelo sujeito, ignorando que nossa mente, por menor que seja em comparação ao universo, precisa ser explicada pelo todo, e não o contrário.”
Para Olavo, essa visão é limitada e ilusória, pois o sujeito não possui a capacidade de controlar a realidade universal. A ideia de que o ser humano pode compreender tudo através do cérebro e da linguagem é um reflexo da arrogância moderna, que ignora as limitações da consciência humana.
O domínio do conhecimento e o exemplo das ondas
Olavo ilustra essa ideia usando uma metáfora sobre nadar em ondas gigantes, mencionando um conhecido que enfrentava ondas de 20 metros não tentando dominá-las, mas deixando-se ser levado por elas. Da mesma forma, o ser humano deve se instalar na realidade sem tentar controlá-la totalmente.
“Assim como um nadador se deixa levar pelas ondas em vez de tentar dominá-las, precisamos aceitar que o mundo real é algo que escapa ao nosso controle.”
Essa entrega ao movimento natural da vida contrasta com o impulso gnóstico, que busca dominar o conhecimento para proteger-se do desconhecido. Olavo sugere que essa tentativa de controle leva ao fechamento do indivíduo para as experiências autênticas e espirituais que o transcendem.
A análise desta parte nos remete a algumas das observações interessantíssimas que José Monir Nasser fez em sua palestra sobre Moby Dick, diga-se de passagem. Assim como Ahab, que busca a todo custo dominar e vingar-se da realidade representada pela baleia, a postura gnóstica que Olavo critica revela esse mesmo impulso de controle absoluto, que esbarra na indomável “verdade universal.” A obsessão de Ahab é um tipo de revolta metafísica contra o que ele não pode submeter ao seu entendimento ou domínio — uma tentativa trágica de fazer frente a uma realidade que sempre nos transcende. Mas isso é outro assunto que não foi tratado no vídeo em questão.
O reflexo gnóstico e a busca de domínio como defesa
Olavo explica que o erro gnóstico surge de uma reação emocional humana ao desconhecido, como o medo e a desconfiança, e ocorre quando o indivíduo tenta dominar o conhecimento para se proteger do que considera ameaçador ou maligno.
Para Olavo, essa tentativa de controle não é apenas um erro filosófico, mas uma postura espiritual equivocada do indivíduo que, ao tentar impor domínio sobre o conhecimento, se distancia da verdade universal, que exige confiança e entrega, não controle.
O convite à confiança na verdade universal
O trecho é finalizado lembrando que o primeiro mandamento, “Amar a Deus,” significa confiar na verdade universal como uma força que sustenta tudo, sem que o ser humano precise controlá-la. Essa confiança é a base de uma postura aberta e receptiva, diferente de uma rigidez gnóstica que tenta reduzir a realidade à compreensão intelectual.
Em suma, o impulso de dominar o conhecimento deve ser rejeitado em prol de cultivar uma atitude de respeito e entrega diante da verdade, reconhecendo nossas limitações e a necessidade de confiar em algo maior que nós mesmos.
P.S.: a aula completa, “O problema da possibilidade da existência e do conhecimento da verdade”, foi ministrada ao vivo no dia 9 de dezembro de 2017 pelo filósofo brasileiro. Já este clipe foi curado e publicado pelo canal Daniel Mota em 21 de fevereiro de 2023.
Conteúdo relacionado
Mais informações
- Duração: 05:18
- Visualizações: 59
- Categorias: Curtos
- Canais: Olavo de Carvalho, Daniel Mota
- Marcador(es): Filosofia, Gnose, Olavo de Carvalho
- Publicado por: Equipe Direita Realista
Disclaimer: exceto quando explicitado na publicação, não temos nenhuma ligação com o conteúdo divulgado ou seu(s) criador(es). É também interessante notar que, apesar do nome do site, nem todo conteúdo publicado aqui pode ser rotulado como "de direita" ou de algo que o valha. Pode ser simplesmente algo interessante e/ou edificante que mereça ser arquivado ou pra realizar um simples registro histórico. Saiba mais sobre o Direita.TV aqui.