José Monir Nasser sobre a dialética de Sócrates: reconhecer nossa ignorância é ponto de partida

José Monir Nasser explora a dialética de Sócrates, lembrando que reconhecer nossa ignorância é um ponto de partida essencial e mostrando como ele utilizava a conversa para revelar a verdade oculta nas ideias e crenças das pessoas. Acesse aqui a descrição completa.


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Descrição

Neste trecho de sua fascinante e edificante palestra sobre Mênon, de Platão, professor e economista José Monir Nasser (1957 – 2013) explora a dialética de Sócrates, mostrando como ele utilizava a conversa para revelar a verdade oculta nas ideias e crenças das pessoas e nos lembrando que reconhecer nossa ignorância é um ponto de partida essencial.

A análise aprofunda o significado do método dialético socrático, esclarecendo suas intenções e impacto.

A maieutica: ajudar ideias a “nascerem”

Monir inicia destacando uma comparação feita por Sócrates no diálogo Teeteto: assim como sua mãe era parteira e ajudava crianças a nascer, ele também atuava como parteiro, mas de ideias. Sócrates não criava ou ensinava diretamente, mas ajudava seus interlocutores a “dar à luz” suas próprias ideias, conduzindo-os a uma melhor compreensão ou à revelação de equívocos.

Esse processo não buscava impor uma verdade pronta, mas sim criar as condições para que a verdade emergisse por meio de perguntas e respostas, abordagem que, para Nasser, transforma Sócrates em um mediador, alguém que organiza a conversa para facilitar a autoanálise e o aprendizado.

O método dialético socrático

O método dialético é apresentado como uma forma de investigação organizada, onde Sócrates examina o que o outro diz, questionando cada ponto até que a pessoa perceba a solidez ou a fragilidade de suas ideias. Monir enfatiza que o termo “dialética” deve ser entendido em seu sentido original: um diálogo estruturado que busca a verdade por meio do exame rigoroso das crenças.

Esse processo é particularmente evidente nos chamados diálogos aporéticos, nos quais as discussões frequentemente terminam sem uma resposta definitiva. Contudo, o objetivo não era fornecer respostas finais, mas desmontar ilusões e ideias falsas, permitindo que o interlocutor reconhecesse sua ignorância como o primeiro passo para a sabedoria.

O exemplo de Eutífron

Monir usa como exemplo o diálogo Eutífron, no qual Sócrates questiona o jovem que pretende acusar o próprio pai de impiedade. Durante a conversa, o filósofo clássico o pressiona a definir o que é “piedade”. Eutífron oferece diversas definições, mas todas são desmontadas por Sócrates, expondo que o jovem não sabe, de fato, o que está afirmando.

Esse embate não busca humilhar, mas libertar. Ao desmontar as ideias superficiais de Eutífron, Sócrates não apenas evita uma injustiça — a acusação contra o pai — como também ensina uma lição vital: só é possível agir com justiça quando se compreende verdadeiramente o significado daquilo que se defende.

O valor da ignorância reconhecida

Para Monir, o método de Sócrates nos lembra que reconhecer nossa ignorância é um ponto de partida essencial. Os diálogos aporéticos demonstram que a busca pela verdade é mais importante do que respostas rápidas ou definitivas. A dialética socrática é, acima de tudo, um convite para abandonar a arrogância intelectual e abraçar o processo contínuo de aprendizado.

Conclusão: a relevância do método socrático

A análise de Monir reforça o impacto atemporal do método de Sócrates. Em um mundo onde frequentemente nos apegamos a certezas frágeis, a dialética socrática nos oferece uma abordagem mais humilde e honesta: questionar para compreender. Através de perguntas incisivas e diálogo estruturado, Sócrates nos lembra que a sabedoria começa quando reconhecemos a extensão de nossa ignorância.


P.S.: este vídeo foi clipado e publicado pelo canal Ewerton Kleber originalmente em 12 de julho de 2018.

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