Guilherme Freire - Trilha pedagógica para ler os clássicos

Guilherme Freire sugere uma trilha pedagógica para ler os clássicos, não apenas uma lista de obras essenciais, mas também um método prático para se formar intelectualmente. Aborda Sócrates, Platão, Santo Agostinho, Shakespeare, Tolkien, Camões e outros clássicos. Acesse aqui a descrição completa.


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Descrição

Nesta live realizada em 16 de de fevereiro de 2023, Guilherme Freire — abordando pensadores do calibre de Sócrates, Platão e Santo Agostinho e autores do naipe de Shakespeare e Tolkien —, sugere uma trilha pedagógica para ler os clássicos.

De forma acessível e espirituosa, ele apresenta não apenas uma lista de obras essenciais, mas também um método prático para se formar intelectualmente a partir delas.

O que é um livro clássico, afinal?

Segundo Freire, o termo “clássico” pode ter dois sentidos. Em um primeiro, remete à Antiguidade greco-romana. No segundo, mais amplo e relevante, é aquilo que transcende o tempo e fala à condição humana em qualquer época. Ou seja, uma obra clássica não é necessariamente antiga, mas perene: tem algo essencial a dizer, mesmo séculos depois de escrita.

Para ilustrar, Freire cita Confissões, de Santo Agostinho. Escrita há mais de 1.500 anos, é uma obra que permanece atual porque trata de dúvidas existenciais, dilemas morais e processos de conversão que ainda nos tocam profundamente.

Os perigos da frescura moderna

Freire critica o que chama de “frescura moderna”, que seria uma sensibilidade excessiva diante de ideias que fogem aos padrões ideológicos atuais, defendendo que o leitor precisa estar disposto a encarar os clássicos em sua integridade, inclusive quando estes desafiam opiniões contemporâneas.

Para ele, a verdadeira formação intelectual exige coragem, visto que os clássicos confrontam, instigam, incomodam — e é justamente por isso que são valiosos. Estas obras falam da tragédia, da elevação humana, do mal e do bem sem os filtros pasteurizados da cultura pop.

A trilha pedagógica: como organizar o caminho de leitura

Freire propõe uma abordagem estruturada para o estudo dos clássicos. Primeiro, ele divide os livros em quatro grandes áreas: literatura, filosofia (em dois eixos: metafísica e política) e história.

Antes de mergulhar em obras muito densas, Freire recomenda iniciar por quatro livros introdutórios:

  1. A Vida Intelectual (Antonin Sertillanges);
  2. Desse É o Consêqüências (Richard Weaver);
  3. A Abolição do Homem (C. S. Lewis);
  4. Ortodoxia (G. K. Chesterton).

Essas leituras fornecem ferramentas de organização pessoal, perspectiva filosófica e compreensão do mundo moderno.

Grandes portas de entrada para a literatura

Freire apresenta os autores e obras que funcionam como “portas” para grandes tradições literárias:

  • Literatura inglesa – Comece por Shakespeare, em especial Macbeth, uma tragédia simbólica e poderosa.
  • Literatura russaCrime e Castigo, de Dostoiévski, por sua profundidade e acessibilidade.
  • Literatura espanholaDom Quixote, de Cervantes.
  • Literatura portuguesaOs Lusíadas, de Camões.
  • Literatura italianaOs Noivos, de Alessandro Manzoni.

Ele ainda destaca a importância dos grandes épicos ocidentais, recomendando a seguinte ordem de leitura, que representaria o auge da literatura universal segundo sua visão:

  1. Ilíada
  2. Odisseia
  3. Eneida
  4. A Divina Comédia
  5. Os Lusíadas

O papel do Tolkien e da imaginação

Freire não deixa de lado a literatura mais recente. Para ele, O Hobbit e O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, são portas de entrada valiosas para a tradição ocidental, por sua força imaginativa e conexão com os valores clássicos.

Filosofia: por onde começar

Na filosofia, o ponto de partida indiscutível é Platão. Freire recomenda iniciar por Apologia de Sócrates, Eutifron, Crítón e só depois passar para obras mais densas como Górgias, Protágoras, Fédon e A República.

A seguir, deve-se ler Agostinho (Confissões) e Boécio (Consolação da Filosofia) para adentrar a filosofia cristã medieval. Só então é indicado encarar Aristóteles e, posteriormente, Santo Tomás de Aquino.

Freire alerta que tentar ler diretamente Metafísica, de Aristóteles, ou a Suma Teológica, de Santo Tomás, sem essa base, é caminho certo para a frustração.

História: formação de base

Para história, Freire sugere livros que, segundo ele, oferecem uma visão ampla e profunda da formação da civilização ocidental:

  • História da Igreja, de Daniel-Rops;
  • História de Portugal, de João Ameal;
  • Obras de Christopher Dawson.

Coragem, ordem e persistência

Ler os clássicos não é tarefa rápida nem fácil, mas é uma jornada que transforma. Freire insiste na necessidade de estrutura, disciplina e resistência à superficialidade. Mais que uma lista de livros, propõe uma verdadeira formação do espírito nesta sua exposição.

Em um mundo de distrações e ideias rápidas, a leitura dos clássicos exige foco e profundidade. Mas, como ele bem coloca, é nesse mergulho que reside a chance de tocar o essencial.


Guilherme Freire é um professor, mestre, conferencista e palestrante em filosofia brasileiro. Dentre várias outras atividades, já foi Secretário Adjunto da Secretaria Nacional da Juventude do Governo Federal e atuou na Secretaria do Planejamento do Governo do Estado do Paraná.

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