Descrição
Neste vídeo, o professor em filosofia Guilherme Freire comenta o livro Revolução dos Bichos (Fazenda dos Animais), o romance satírico do escritor inglês George Orwell, publicado originalmente no Reino Unido em 17 de agosto de 1945.
A sátira feita pelo livro à União Soviética, comunista, obteve o 31.º lugar na lista dos melhores romances do século XX organizada pela Modern Library List. A obra também foi incluída pela revista americana Time na lista dos 100 melhores romances da língua inglesa.
Segundo Freire, professor de filosofia e antigo secretário Adjunto da Secretaria Nacional da Juventude do Governo Federal, Orwell teria ficado desiludido com a URSS e o movimento socialista global, e o Revolução dos Bichos é o seu livro onde fica mais evidente tal impacto. Ele também fez um resumo do enredo do romance.
Muito interessante. A seguir tentamos fazer uma análise explorando os principais pontos abordados na exposição.
A desilusão de George Orwell com o socialismo
Guilherme Freire inicia contextualizando a obra a partir da biografia de Orwell, que lutou ao lado de socialistas e anarquistas na Guerra Civil Espanhola e testemunhou o massacre de anarquistas pelos próprios comunistas, uma experiência que lhe trouxe grande choque e o levou a questionar o movimento socialista global e o próprio ideal comunista. Revolução dos Bichos se tornou o veículo literário por meio do qual Orwell expressa essa decepção com a União Soviética e os regimes totalitários.
“Orwell escreve a Revolução dos Bichos justamente como uma resposta ao que viu na Guerra Civil Espanhola, onde os comunistas começaram a suprimir qualquer dissidência à sua ideologia.”
Esse contexto pessoal de Orwell confere à obra um tom crítico e amargurado, revelando seu descontentamento com a maneira pela qual ideais utópicos são distorcidos para justificar o poder centralizado e o controle social.
A alegoria da União Soviética
Freire explica que Revolução dos Bichos é uma alegoria direta da história soviética, retratando eventos e personagens históricos em forma de sátira. Na fazenda onde se passa a história, Mister Jones, um fazendeiro bêbado e negligente, representa o czar Nicolau II, cujo governo decadente antecedeu a Revolução Russa. Os animais, ao se rebelarem contra Jones, instauram um regime que promete igualdade e justiça, mas que rapidamente se transforma numa tirania.
Há também Bola de Neve (Snowball), que representa Leon Trotsky, um idealista que busca inovações e melhorias para a fazenda (e também um carniceiro palhaço dos infernos). Após a Revolução, é perseguido e expulso por Napoleão, em um paralelo com o exílio e assassinato de Trotsky a mando de Stalin, que é representado na obra por Napoleão, que governa a fazenda com mão de ferro, utilizando os cachorros como uma polícia secreta para suprimir qualquer oposição.
A crítica de Orwell não se limita ao governo de Stalin, mas abrange a estrutura totalitária que se consolidou após a revolução. O processo de transformação da fazenda, de uma sociedade igualitária para uma ditadura, revela o cinismo com que os ideais são distorcidos.
Ciência e doutrinação: a obsessão pelo progresso
Freire comenta que o moinho de vento na história simboliza a busca por progresso científico, refletindo o esforço soviético em alcançar avanços tecnológicos, o que se tornou uma obsessão, relegando o bem-estar dos trabalhadores ao segundo plano e fracassando miseravelmente várias vezes.
“O moinho representa a promessa de que o progresso científico trará um futuro próspero para todos, mas na prática é apenas mais uma ferramenta de controle.”
Essa obsessão pela ciência e doutrinação, incluindo a manipulação dos filhotes para servirem ao regime, reflete a maneira pela qual o regime soviético doutrinava as gerações jovens, moldando-as para seguir a ideologia oficial sem questionamento.
Boxer, o trabalhador incansável e o ceticismo de Orwell
Boxer, o cavalo trabalhador, representa o proletariado, que, acreditando nas promessas do regime, trabalha arduamente para o bem da fazenda. Entretanto, quando fica velho e ferido, é vendido para o abate, demonstrando o desprezo do regime pelos seus apoiadores leais.
Freire também menciona o burro Benjamin, cuja atitude cínica simboliza a perspectiva crítica de Orwell, observando sempre acontecimentos com pessimismo, já antecipando que as promessas de igualdade e justiça nunca seriam cumpridas. A relação entre Boxer e Benjamin ilustra a exploração dos trabalhadores e a visão sombria de Orwell sobre as revoluções que se desviam de seus princípios.
A revolução se torna uma nova tirania
No final, a revolução traída é simbolizada pelo famoso lema modificado: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.” Freire ressalta que essa frase encapsula a crítica de Orwell ao totalitarismo, no qual a igualdade é distorcida para beneficiar uma elite privilegiada.
No último capítulo, Napoleão e outros porcos se reúnem com fazendeiros humanos, mostrando que a diferença entre opressores antigos e novos desapareceu. Para Freire, essa cena representa o cinismo absoluto da revolução, onde os antigos opressores e os novos governantes se tornam indistinguíveis.
“Orwell mostra, de forma magistral, como ideais belos são corrompidos e misturados com os vícios do passado, levando a um novo regime igualmente opressor.”
A crítica de Orwell e a atualidade de Revolução dos Bichos
Guilherme Freire conclui que Revolução dos Bichos é uma sátira que transcende seu contexto histórico, pois retrata a manipulação de ideais e o abuso de poder, temas que permanecem relevantes. Orwell oferece uma advertência contra o totalitarismo e o culto ao progresso, revelando o preço a ser pago quando se abandona a liberdade e a verdade em nome de promessas utópicas.
A complexidade da obra de Orwell pode ser um lembrete contundente sobre o potencial de qualquer revolução se transformar em uma nova forma de tirania. Então, tome cuidado antes de embarcar em conversa de maconheiro, especialmente aqueles bem ressentidos.
P.S.: este vídeo foi publicado em 22 de fevereiro de 2021.
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- Duração: 12:44
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- Canal: Guilherme Freire
- Marcador(es): George Orwell, Guilherme Freire, Literatura, União Soviética
- Publicado por: Direita Realista
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